Mobilização do DISAI dá o tom ao Grito dos Excluídos de Alagoinhas 2025

Além de pautas nacionais, como defesa da democracia e soberania nacional, o ato levantou a bandeira de posseiros em luta pela regularização fundiária

Foto: Divulgação

Organizado tradicionalmente no Dia da Independência do Brasil, o 7 de setembro de 2025 marcou a realização da 31ª edição do Grito dos Excluídos em diversas cidades do país. O ato reuniu movimentos sociais, sindicatos, entidades estudantis, pastorais, partidos políticos e membros da Igreja Católica, com o objetivo de dar voz a pessoas e grupos marginalizados pela sociedade.

Entre os principais temas discutidos estiveram a defesa da democracia e da soberania nacional, a justiça e inclusão social, a taxação dos super-ricos, o fim da jornada de trabalho 6x1, além da proteção ao meio ambiente e das mudanças climáticas — questão que ganha destaque diante da realização da COP 30, em novembro, em Belém (PA).

Em Alagoinhas, a concentração ocorreu no estacionamento da Catedral de Santo Antônio. A pauta local destacou a mobilização dos moradores do DISAI contra a desapropriação. Com mais de 170 pessoas presentes, os posseiros cobraram do Governo do Estado da Bahia a regularização fundiária de suas terras, por meio da Superintendência de Desenvolvimento Agrário (SDA).

(Para entender o contexto da luta dos moradores do DISAI, confira nosso texto anterior).

O ato que ocorreu na manhã deste domingo em Alagoinhas contou também com a participação do deputado estadual Radiovaldo Costa, representantes do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Alagoinhas (SINPA); Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Agricultura Familiar de Alagoinhas (SINTRAF); Sindicato dos Comerciários de Alagoinhas (SICOMERCIÁRIO); Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU).

Foto: Divulgação

Para Adelson Filho, assessor técnico do SINTRAF-Alagoinhas, o destaque da edição deste ano no Município foi, sem sombra de dúvidas, o movimento do DISAI. "Este foi um sinal claro de extrema indignação diante da falta de trato e respeito com aquele povo. Foi um dos momentos mais marcantes que eu já vi, e que deixou um recado firme e direto para o governo estadual e municipal", declarou o líder sindical.

Questionado sobre a relevância do encontro do prefeito de Alagoinhas, Gustavo Carmo, com um grupo de moradores do DISAI, Adelson Filho disse que lamenta a ocasião. A reunião foi realizada no Espaço Colaborar, na sede da Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Turismo, e incluiu a gravação de um vídeo com os presentes.

"Lamentavelmente, o governo municipal não se reuniu com a comunidade, tampouco com a comissão pró-DISAI. Ao invés disso, tentaram criar uma cortina de fumaça para desarticular a mobilização, mas o tiro acabou saindo pela culatra: a verdadeira comunidade, convicta de sua luta, se revoltou ainda mais", enfatizou Adelson.

Segundo o sindicalista Adelson Filho, a maioria dos participantes da reunião convocada por Gustavo Carmo não era do DISAI. Ele afirmou que, com exceção de um indivíduo que atua como cabo eleitoral de um vereador, os presentes eram de outras localidades.

Outro participante notável no Grito dos Excluídos foi Chico da Calu, que segurava um cartaz com a frase "Salve o rio Calu Estevão". Com a mensagem, ele buscou chamar a atenção das autoridades para a necessidade de preservar esse importante rio que, segundo ele, já teria sido destruído pela poluição se não fosse pelo seu trabalho.

Representando o PSTU, o professor e ativista político Ednaldo Sacramento avaliou que esta edição do Grito dos Excluídos foi uma expressão do que vem acontecendo recentemente com os movimentos sociais no Brasil. "Na minha concepção, foi um movimento pequeno para o que poderia ser. Caiu muito comparado às décadas passadas. Porém, é importante esta retomada", destacou Ednaldo.

Foto: Ednaldo Sacramento

Sacramento ressaltou a participação ativa e massiva dos moradores do DISAI. Para ele, existe um consenso de que definições precisam ser tomadas para que a comunidade local possa ter tranquilidade e também para que a especulação imobiliária não avance sobre a área pública que ainda não foi utilizada. "A participação dos cidadãos do DISAI fortaleceu a manifestação e demonstrou que os trabalhadores e trabalhadoras, juntamente com o povo pobre deste país, têm disposição para lutar quando são convocados e organizados para isso", disse o ativista do PSTU.

AUSÊNCIAS

Em anos ímpares não ocorrem eleições no Brasil, diferentemente dos anos pares, em que as mobilizações partidárias tendem a ser mais intensas no dia 7 de setembro.

Foto: Divulgação

Entretanto, algumas ausências foram bastante sentidas pelos presentes no Grito dos Excluídos de Alagoinhas. Segundo Rosenaldo Vital, católico e ex-filiado ao Partido dos Trabalhadores, em participação no Programa Canal Aberto da rádio 93 FM na manhã desta segunda-feira (08), faltou uma participação maior da Igreja Católica, que sempre cumpriu um papel de protagonismo desde o início destas atividades em 1995, através das pastorais sociais da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). "Parabenizo todas as pessoas que estiveram presentes, mas lamento a ausência dos membros da Igreja Católica. Apenas dois padres presentes em uma cidade que possui diversas paróquias. Aonde estava esse povo?", questionou Vital. 

Rosenaldo aproveitou o ensejo para perguntar aonde estava a tradicional "onda vermelha", que tradicionalmente era composta pela militância do Partido dos Trabalhadores. "Cadê a onda vermelha? O que eu vi foi uma marolinha. Só vão pra rua quando é ano de eleição?", indagou mais uma vez. Vital afirmou ainda que em 2026 haverão ondas de todas as cores nas ruas, em função do processo eleitoral.

Adelson Filho reconheceu o papel da Igreja Católica, em nome do padre Pedro Miquel, por ter puxado o Grito dos Excluídos. "A iniciativa foi extremamente louvável. Contudo, reconheço também que a própria comunidade católica e membros da Igreja não participaram de forma plena desse momento", destacou. Adelson completa dizendo que o que realmente o chamou a atenção foi o desfalque da militância e dos filiados dos partidos de esquerda. "É impressionante como essas siglas hoje em dia não conseguem sequer organizar seus próprios quadros. Isso é, no mínimo, surpreendente", salientou.

Por fim, Adelson admitiu que essas ausências abrem espaço para que os cidadãos que realmente estão dispostos à luta se sintam mais à vontade, pois, segundo ele, "não há a interferência do oportunismo eleitoreiro praticado por determinados políticos que se apresentam como defensores das minorias, mas que na prática não passam de oportunistas". 

Já Ednaldo Sacramento minimizou a relevância da "não participação" em massa do PT de Alagoinhas. Para  ele, o Grito dos Excluídos foi instrumentalizado, especialmente em anos eleitorais, o que gerou questionamentos a este Movimento. "A única bandeira de partido político que pude ver no último domingo em Alagoinhas no Grito, foi a do PSTU. O eleitoralismo afastou os partidos das ruas, apesar de reconhecer a participação de alguns poucos militantes históricos do Partido dos Trabalhadores", declarou o professor. 

Por último, Ednaldo mostrou entusiasmo ao perceber que, aos poucos, os movimentos sociais vêm dando sinais de poder fazer opção pelas ruas.

A expectativa é que, com a vinda do governador Jerônimo Rodrigues no final do mês de setembro ao município de Alagoinhas, a questão do DISAI e paz dos moradores possam ser estabelecidas de uma vez por todas.


Por: Redação / Portal Pereira News

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