Entre disputas políticas, interesses mesquinhos e contradições partidárias
![]() |
Foto: Divulgação |
“Matar dois coelhos com uma cajadada só” é um ditado popular, sobre o qual não se tem clareza de como se originou, mas, o seu sentido é claro. Alcançar dois objetivos com uma única ação, o que seria o mesmo que abater dois alvos com um único ato. Por outro lado, com um mínimo de atenção, é possível observar na exigência de demissão do radialista Adelson Filho da emissora que trabalhava que, também, algumas ações podem servir ao mesmo tempo a dois coelhos, ou a dois lobos, nem todos em peles de cordeiro.
Em nota divulgada e fazendo referência à perseguição que já
sofria há algum tempo, quando diz que ouviu que seria “Eu ou ele”, Adelson deixou
claro ter sido exigida a sua demissão, mas não foi direto sobre de onde teria
vindo, apesar de ter sinalizado. E se engana quem imagina que só o atual
Prefeito do município de Alagoinhas teria motivação e disposição para tal
cobrança, o que não quer dizer que esses tenham razão, ao contrário, revela uma
postura autoritária, a falta de liberdade de imprensa ou, simplesmente, tentativas
de se “calar a boca”!
A intensidade da falta de liberdade de imprensa poderá ficar
ainda mais revelada com os efeitos pós-publicação deste texto. Há emissoras
onde isso se mostra de forma mais escancarada, o que pode ser observado com o
levantamento de quem “dá entrevistas”, mas, mesmo nas ditas “democráticas” isso
pode ser percebido. Aliás, o próprio diretor-proprietário da Emissora em que o
Adelson Filho trabalhava falou várias vezes “no ar” que seu compromisso seria
com os que sustentam a Emissora. Inicialmente, vem à mente os representantes
dos segmentos empresariais, mas é necessário atentar para o fato de que não são
só esses os anunciantes. A propaganda, institucional ou personalista, acontece também
com a veiculação de governantes, da Câmara Municipal, de determinados deputados
e até de sindicalistas. Dentre esses, duvido que sejam gratuitos alguns dos
“abraços” diários e regulares enviados pelas ondas do rádio (e pela internet) a
algumas figuras, mas, com certeza, alguns espaços de entrevistas são comprados,
a exemplo das que vinham sendo realizadas, pelo menos duas vezes por semana,
pelo próprio Adelson Filho com um dirigente sindical petroleiro, da Federação
Única dos Petroleiros (FUP).
Tentar “calar a boca” também pode revelar interesses
mesquinhos, “fogo amigo” e muitas contradições. Ora, quando um governante busca
silenciar jornalistas e/ou radialistas nós repudiamos, mas não é difícil
entender suas motivações. No entanto, como compreender se o ataque for
compartilhado ou, simplesmente, tolerado por correligionários? Aliás, falar em
correligionários no momento é um tanto confuso porque, estão quase todos
misturados. Por exemplo, o atual governo teve o apoio do Partido dos
Trabalhadores (PT - partido de Adelson Filho), que tem o vice-prefeito, várias
secretarias, inclusive, a Superintendência de “Participação Popular”, comandada
por alguém que goza das preferências do deputado federal Joseildo Ramos. Aliás, o
escolhido para substituir Adelson no rádio, além de ser do PT é do grupo que
comanda a referida Superintendência.
Também não nos esqueçamos de recente pronunciamento público
em que Adelson externou opinião sobre a pobreza do mandato do deputado que,
diante de tantos temas relevantes faz opção pela entrega de ambulâncias. Questão
já tratada por mim em um artigo intitulado “a mediocridade a serviço da pequena política”. Seria demais supor que interesses mesquinhos queiram calar um
radialista que busca dar voz a um eventual concorrente ao mandato do deputado?
Mais lamentável ainda é lembrar que essas disputas de interesses podem vir de
vários lados, afinal, na aliança entre Gustavo Carmo e o PT tem gente de todos
os espectros políticos, o que produz enormes contradições. Aliás, contradições
é que não faltam!
Remar contra a maré não é fácil. A coerência cobra um preço
alto, mas que precisa ser enfrentado pelos que não olham apenas para o próprio
umbigo e buscam se somar a projetos coletivos. Se é verdade que a gravidade da
situação dos mais pobres exige ações urgentes, também é verdadeiro que, diante
do emaranhado de contradições existentes, a paciência evita que se caminhe pelo
oportunismo, ainda com novas e maiores contradições. O antes, durante e pós
eleições municipais de 2024 deixou claro o choque de posições de Adelson Filho
com o partido ao qual está filiado. No entanto, suas críticas a determinadas
posições do PT se chocam com o seu voto para a presidência nacional da
legenda, já que votou no candidato mais à direita. Por outro lado, são justas
suas críticas ao mandato do deputado, mas, em que se diferencia dele o sindicalista
“amigo” do presidente Lula, que ganhou espaços no rádio para fazer sua
pré-campanha a deputado? Só para lembrar, ele nunca esquece (ou esquecia) de
enviar o seu abraço ao atual prefeito Gustavo Carmo!
A realidade retratada acima levou muitos que se comoveram
com a perseguição política e a tentativa de calar a boca a se perguntar: “Como
Ele ainda tem estômago para continuar filiado ao PT?”
Adelson com a palavra!