Com a ausência de oposições, prevalece o continuísmo!
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Foto: Divulgação |
Quantos de nós não já ouvimos, ou até pronunciamos, que a ignorância serve aos governantes, já que assim eles seguem exercendo o poder? Da mesma forma que o completo ignorante, também o analfabeto político cumpre o mesmo papel. Esse tipo de ignorância é alimentado por aqueles que reproduzem a ideia de que “todo político, ou partidos são iguais”.
De forma geral, prefeitos e vereadores acabaram de completar
quatro meses de mandato, muitos ainda sem sequer apresentar um relatório
conclusivo da “transição”, e já se ouvem anúncios de pré-candidatos a deputados
e, como de costume, também negociações para mudanças de legenda, visando as
eleições do próximo ano. Afinal, de dois em dois anos se realizam eleições no
Brasil. Ao longo da história recente do país, mudanças nas regras eleitorais
foram adotadas, quase sempre resultado das pressões por maior representação
política ou, ao contrário, para limitá-la. Durante a ditadura militar,
instaurada no país através de um golpe de estado em 1964, vivíamos submetidos a
um simulacro de democracia, mas podemos situar o ano de 1974 como um momento em
que se verifica um relativo crescimento da representação política no país.
Nesse ano, o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), alcançou um extraordinário
crescimento eleitoral, fato que assustou os então detentores do poder.
Desde então, o que mudou?
Seria suficiente comparar um ex governante, seja ele
prefeito ou presidente da República, com seus antecessores e dizer “fulano ou
sicrano foi melhor”? Melhor para quem? A quem eles serviram? Enfim, qual marca
fundamental eles deixaram? Pelo menos tentaram contribuir com a redução da
ignorância, ou a cultivou ainda mais?
É verdade que não podemos reduzir a importância de alguns
avanços conquistados, resultado de muitas lutas, especialmente os decorrentes
das previsões de direitos inscritos na Constituição Federal de 1988. Conquistas que, lamentavelmente, ano a ano,
vêm sendo atacadas e, muitas das vezes, comemoradas pelas próprias vítimas. Da
mesma forma, é muito importante o acesso a serviços antes limitados a uma
pequena parcela da população, mas isso não pode ser visto como favor ou
competência de governantes, muito menos realizações viabilizadas pelo sucesso
empresarial. Não, muito ao contrário; esses ganharam muito mais que a população;
cresceu a riqueza, mas também a diferença entre os mais ricos e os mais pobres!
A mudança mais contundente nesses últimos 50 anos foi o
crescimento da riqueza produzida mundialmente, e no Brasil em especial. Um
salto na produção de bens e serviços, fruto do trabalho coletivo, e da utilização
do extraordinário desenvolvimento tecnológico. Este salto em 50 anos
permitiria a toda a população o acesso à saúde de excelente qualidade, educação
de alto nível, com acesso à diversidade da cultura, transporte coletivo público
eficiente e a existência de cidades agradáveis, seja aqui em Alagoinhas (BA) ou
em qualquer outro município. Por que não é assim?
A última questão apresentada pode nos remeter a um debate
sobre a estrutura da sociedade, mas outra pergunta pode ser formulada e é
necessário se buscar respostas: onde estão as oposições aos responsáveis pela
permanência e até aprofundamento do atual quadro de carências e desigualdades?
Observa-se a movimentação de alguns membros da Câmara
Municipal, vistos como de oposição, lamentavelmente, em número menor que nas
legislações anteriores. Quanto às opiniões da população, essas se dividem entre
críticas e elogios, compreensíveis, afinal, diante de tantas carências, se
contentam com pouco. Mas, e as organizações políticas, onde estão? O que
propõem de diferente? Ou, será que os rumos do governo e a concepção política
dos que aí estão apontam para mudanças que resultem em transformações
substanciais, que tornem desnecessárias as oposições?
Ainda restaria questionar: oposição a que, ou a quem?
Caso se pense em transformações de verdade, oposições precisam
se apresentar como portadoras de um projeto, fruto de construção coletiva. Não
existem “salvadores da pátria”, nem acredito em “Mitos”. Quanto aos partidos
políticos, esses deveriam ser representantes de um programa, que nada mais é
que a compreensão de seus membros sobre a sociedade. E, portanto, o debate
ideológico pode alimentar as expectativas de mudanças ou, a sua ausência, a
permanência da insignificância!
Oportunistas, picaretas ou, simplesmente, os parasitas,
mudam de partido de acordo com as conveniências, alguns assumidamente; não há
afinidade, nem mesmo a grupos. Em entrevista no rádio, a poucos dias,
perguntado de que lado vai estar nas trocas de grupos e de partidos, assim
respondeu um ex-prefeito, ex-deputado, ex-candidato a prefeito e pré-candidato
a deputado: “Não sei (...) vou pensar em mim”. Para ele “todos os partidos são
iguais”. Da entrevista, nada mais que mereça menção. É provável que ele esteja
se inspirando em partidos que criaram expectativas, mas mudaram de rumo, se
degeneraram e provocaram frustrações na população e em militantes. No entanto,
quem nunca expressou afinidade política a projetos não teria moral para fazer
cobranças. Pois é, o Paulo Cézar pode continuar a ser oposição (sic), ou
não; quanto a seus aliados de ontem, não se sabe. Pelo menos duas
representações no legislativo municipal de Alagoinhas seguirão na oposição, mas
o projeto de sociedade é o mesmo de quem está no governo. No Estado, agora o
PDT muda de grupo; não se sabe o que será amanhã, em Alagoinhas.
Quanto ao que um dia foi “a esquerda”, desta só resta o nome.
Hoje, compõe um governo que em nada difere dos que mereceram a sua oposição.
Não nos faltam exemplos para sustentar as próximas exposições.
Faço aqui o reconhecimento de que, a despeito de ser
detentora de um programa e um projeto, a verdadeira esquerda em Alagoinhas tem
carecido de ações efetivas. Faço esse registro sem constrangimento, certo de
que tenho dado passos no sentido de sanar esta debilidade e, principalmente,
porque não posso me constranger por algo que depende de ação coletiva. Assim,
resta que venham ajudar a propagar a quatro ventos o projeto no qual acreditam,
do contrário, crescerá a insignificância. E, como já afirmei em outros
momentos, “não há nada que não possa piorar”!