LEMBRANÇAS DE UM MIGRANTE - Por Geraldo Almeida

Confira a crônica da semana do ex-vice-prefeito de Alagoinhas e colunista do Portal Pereira News

Foto: Reprodução / WEB

Esclareço, de início, que esta crônica é um relato da minha vida vivida nesta terra, Alagoinhas, desde o longínquo abril do ano  de 1974, quando aqui cheguei, recém formado e solteiro, para ser técnico da extensão rural, tendo uma história recheada de vitórias e crescimento, mas também de alguns dissabores, ingredientes sempre presentes numa vida que  posso chamar de interessante, porque monótona, retilínea, não foi.

Nasci no ano de 1948 na pequena cidade de Cruz das Almas - hoje considerada de porte médio com seus 65 mil habitantes. Minha mãe ficou viúva com 24 anos de idade e decidiu manter o celibato até o final de sua vida. Não conheci o meu pai pois tinha apenas alguns meses de nascido quando ele sofreu um acidente de trânsito e faleceu. Com dois filhos para criar, minha mãe teve que ir trabalhar na maior empregadora do Recôncavo Baiano, a indústria de charutos Suerdieck, onde se aposentou.

Fui muito feliz na minha fase infanto-juvenil, porque apesar de pertencer a uma família humilde não passei por necessidades básicas e tive uma intensa vida lúdica.

 Estudei o primário na escola Comendador Temístocles, num ambiente altamente integrador e equalitário, visto que alunos de todas as camadas sociais da cidade, dos mais afortunados aos mais carentes, alí se encontravam sem nenhuma distinção. Cursei o segundo grau no  afamado Colégio Estadual Alberto Torres, templo de um ensino excepcional pelo fato do seu corpo docente ser integrado, na época, também por professores da Escola  de Agronomia da UFBA, atual sede da UFRB. Dizia-se que o colégio estava entre os cinco melhores da Bahia, atraindo alunos de outras regiões do estado e de Sergipe,  porque era preparador de estudantes para o vestibular daquela faculdade.

Desde garoto eu conhecia a vasta área da escola de agronomia, com seus prédios imponentes da década  de quarenta, amplo laranjal, criação de gado, etc. Recordo que sempre ao entardecer dois ônibus da faculdade levavam estudantes para um momento de descontração na ampla praça Senador Temístocles, onde a paquera com moças da cidade sempre ocorriam, algumas resultando em casamentos. Era o meu sonho cursar agronomia naquela escola.

No ano de 1970 ocorreram dois fatos que foram fundamentais para mudarem o rumo de minha vida: foi o ano que, após ser aprovado no vestibular, iniciei o curso de agronomia e meses após ingressei no Banco do Brasil, um dos melhores empregos do país na época.

 Durante quatro anos tive que conciliar a jornada de trabalho no BB com as aulas, o que só foi possível graças à generosidade e compreensão do gerente geral da agência, que permitiu a flexibilização do  horário de trabalho dos funcionários que cursavam aquela faculdade (existiam outros além de mim).

Em 1973 fui diplomado e veio o dilema: continuar no banco fazendo carreira interna, com ótimo salário e generosos benefícios extras, que aquela 

instituição propiciava aos seus empregados (hoje não mais), ou buscar espaço num órgão público para exercer a profissão de agrônomo? Sou um idealista desde a juventude  e foi o idealismo que me fez optar pela agronomia, não sem antes receber conselhos de colegas do BB no sentido de que refletisse bem sobre a minha escolha, porque o serviço público raramente remunerava no mesmo nível daquele banco oficial.

Logrei ser aprovado em dois concursos, na SEAGRI-BA e na ANCARBA-Associação Nordestina de Crédito e Assistência Rural da Bahia. Na hora de escolher  optei pelo segundo, porque tive a alternativa de Alagoinhas como sede, cidade que era a oitava da Bahia em população, próxima de Salvador e de  Cruz das  Almas onde eu deixei minha mãe e minha noiva, Célia, com a qual faço bodas de ouro este ano.

Em abril de 1974 desembarquei em Alagoinhas, apreensivo quanto às responsabilidades que me esperavam. Apreensão de recém-formado com a obrigação de tirar a carteira de motorista no prazo de noventa dias e de dar conta dos projetos de citricultura existentes no escritório, que aguardavam um técnico para o acompanhamento a nível de fazendas.

Faz 51 anos que aqui cheguei e permaneço até hoje, nessa terra que me acolheu como a um filho dileto, tornando-me seu cidadão honorário e  elegendo-me vice prefeito em uma gestão passada. Mas essa história não termina aqui pois tenho muito o que contar nesse meio século vivido na outrora "terra da laranja" , o que será objeto de futura crônica.


Geraldo Almeida é engenheiro agrônomo e ex-vice-prefeito de Alagoinhas.

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