Foto: Rafa Neddermeyer Agência Brasil |
Ao passar das décadas seguintes,
a expressão ganhou destaque no cenário nacional, sendo utilizada em contextos
diferentes nos mais variados meios (da política à publicidade). Lembro-me que,
desde minha adolescência, volta e meia ouvia alguma figura pública usar da
expressão “Brasil, um país do futuro” como uma mensagem de esperança diante de
tempos difíceis (e não foram poucos). E
assim fomos vivendo, esperando um futuro de esperança que nunca chega, tentando
ignorar a realidade do tempo presente.
Não sei dizer ao certo em que
momento da história da nossa jovem e cambaleante democracia o sonho da
esperança se tornou o pesadelo da triste realidade dos escândalos da política
nacional. E infelizmente, não foram poucos!
Aos poucos vamos percebendo que o
sonho de um “Brasil do futuro” vem sendo corroído por velhas práticas de
corrupção e aparelhamento do Estado. O mais recente escândalo envolvendo o
Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) revela não apenas um esquema de
fraude bilionário contra aposentados, mas também a conivência, omissão e
aparelhamento institucional de setores do governo federal — em especial de
figuras ligadas ao Partido dos Trabalhadores (PT).
Segundo investigações da Polícia
Federal (PF) e da Controladoria-Geral da União (CGU), o esquema envolvia o desconto
indevido de mensalidades e taxas nos benefícios previdenciários de aposentados
e pensionistas. Esses valores eram repassados diretamente a entidades sindicais
e associações de fachada, sem a autorização prévia dos segurados, como exige a
lei. As investigações também descobriram que foram realizados inúmeros
empréstimos consignados em nomes de aposentados, sem a autorização deles. Estima-se
que cerca de R$ 6,3 bilhões foram desviados por meio dessas fraudes entre 2019
e 2024.
Como funcionava o Golpe
O mecanismo era perverso em sua simplicidade: associações sindicais — muitas das quais ligadas a aliados históricos do PT — registravam convênios com o INSS para descontar valores diretamente dos benefícios dos segurados. Com a anuência de servidores e omissão deliberada da alta cúpula do INSS, os descontos ocorriam mesmo sem a expressa autorização dos aposentados. Situação semelhante ocorria com a realização dos empréstimos consignados.
A blindagem política e a crise
de governabilidade
O ministro da Previdência, Carlos
Lupi (PDT), renunciou após ser pressionado por parlamentares e pela imprensa,
mas o governo tentou inicialmente minimizar o impacto das revelações, alegando
que a investigação teria se iniciado em sua gestão. No entanto, documentos
obtidos pela CGU mostram que havia alertas desde 2023 sobre irregularidades nas
autorizações de desconto — e que nada foi feito.
A demissão do presidente do INSS,
Alessandro Stefanutto, também não foi suficiente para conter o desgaste
político. Parlamentares da oposição apontam que o governo Lula tentou blindar
aliados e evitar investigações mais profundas, o que evidencia uma tentativa de
acobertamento institucional.
Nesse turbilhão, qual tem sido uma das grandes soluções apontadas pelo Governo? Pasmem! Fazer o POVO pagar pelo prejuízo! Afinal, correr atrás de bandidos e prendê-los dá trabalho, e a depender das relações, também é inconveniente! É muito mais fácil passar a conta para a população, que de tão calejada, já está acostumada.
Impactos políticos e sociais
É evidente, que o escândalo abala seriamente a governabilidade do atual governo, que já enfrenta dificuldades econômicas, baixa popularidade e desconfiança no Congresso. A população, sobretudo os aposentados (que foram as maiores vítimas do golpe) sente-se traída por um governo que prometeu proteção social e justiça, mas entregou desleixo e conivência.
A crise expõe a contradição
entre o discurso do “governo do povo” e a realidade de práticas que lesam
justamente os mais vulneráveis. O chamado "Brasil do futuro", sonhado
por milhões, vê-se novamente à mercê dos mesmos esquemas de bastidores, onde
interesses partidários se sobrepõem ao interesse público.
Enquanto as investigações prosseguem, o país aguarda não apenas responsabilizações, mas também uma mudança real de postura e governança — sob pena de ver, mais uma vez, promessas de esperança afundarem sob o peso do velho patrimonialismo brasileiro.
Acredito que já passou da hora de
finalmente refletirmos sobre nosso verdadeiro papel nesse processo, e pararmos
de esperar eternamente o Brasil do futuro, para de fato agirmos para
transformarmos o Brasil do presente.
Leandro Carvalho Sanson é professor, advogado, coordenador acadêmico, ativista político filiado ao Novo e escreve para o Portal Pereira News.