DO BRASIL DO FUTURO AO GOLPE NOS APOSENTADOS - Por Leandro Sanson

Em sua coluna da semana, o professor e advogado aborda como um esquema milionário no INSS expõe falhas, conivência e ameaça a credibilidade do Governo Lula

Foto: Rafa Neddermeyer Agência Brasil

A expressão “Brasil, um país do futuro”, foi cunhada pelo autor judeu-austríaco Stefan Zweig, que no final da metade do século XX se radicou na cidade fluminense de Petrópolis, fugindo do nazismo, e em 1941 lançou sua obra com esse mesmo título.

Ao passar das décadas seguintes, a expressão ganhou destaque no cenário nacional, sendo utilizada em contextos diferentes nos mais variados meios (da política à publicidade). Lembro-me que, desde minha adolescência, volta e meia ouvia alguma figura pública usar da expressão “Brasil, um país do futuro” como uma mensagem de esperança diante de tempos difíceis (e não foram poucos).  E assim fomos vivendo, esperando um futuro de esperança que nunca chega, tentando ignorar a realidade do tempo presente.

Não sei dizer ao certo em que momento da história da nossa jovem e cambaleante democracia o sonho da esperança se tornou o pesadelo da triste realidade dos escândalos da política nacional. E infelizmente, não foram poucos!

Aos poucos vamos percebendo que o sonho de um “Brasil do futuro” vem sendo corroído por velhas práticas de corrupção e aparelhamento do Estado. O mais recente escândalo envolvendo o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) revela não apenas um esquema de fraude bilionário contra aposentados, mas também a conivência, omissão e aparelhamento institucional de setores do governo federal — em especial de figuras ligadas ao Partido dos Trabalhadores (PT).

Segundo investigações da Polícia Federal (PF) e da Controladoria-Geral da União (CGU), o esquema envolvia o desconto indevido de mensalidades e taxas nos benefícios previdenciários de aposentados e pensionistas. Esses valores eram repassados diretamente a entidades sindicais e associações de fachada, sem a autorização prévia dos segurados, como exige a lei. As investigações também descobriram que foram realizados inúmeros empréstimos consignados em nomes de aposentados, sem a autorização deles. Estima-se que cerca de R$ 6,3 bilhões foram desviados por meio dessas fraudes entre 2019 e 2024.

Como funcionava o Golpe

O mecanismo era perverso em sua simplicidade: associações sindicais — muitas das quais ligadas a aliados históricos do PT — registravam convênios com o INSS para descontar valores diretamente dos benefícios dos segurados. Com a anuência de servidores e omissão deliberada da alta cúpula do INSS, os descontos ocorriam mesmo sem a expressa autorização dos aposentados. Situação semelhante ocorria com a realização dos empréstimos consignados.

 Ao todo, mais de 20 entidades foram identificadas como participantes do esquema. Uma das mais mencionadas é a Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos da Força Sindical (Sindnapi), que possui como vice-presidente o Srº. José Ferreira da Silva, conhecido como Frei Chico, irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A ligação direta com a família presidencial trouxe ainda mais gravidade ao escândalo. 

A blindagem política e a crise de governabilidade

O ministro da Previdência, Carlos Lupi (PDT), renunciou após ser pressionado por parlamentares e pela imprensa, mas o governo tentou inicialmente minimizar o impacto das revelações, alegando que a investigação teria se iniciado em sua gestão. No entanto, documentos obtidos pela CGU mostram que havia alertas desde 2023 sobre irregularidades nas autorizações de desconto — e que nada foi feito.

A demissão do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, também não foi suficiente para conter o desgaste político. Parlamentares da oposição apontam que o governo Lula tentou blindar aliados e evitar investigações mais profundas, o que evidencia uma tentativa de acobertamento institucional.

Nesse turbilhão, qual tem sido uma das grandes soluções apontadas pelo Governo? Pasmem! Fazer o POVO pagar pelo prejuízo! Afinal, correr atrás de bandidos e prendê-los dá trabalho, e a depender das relações, também é inconveniente! É muito mais fácil passar a conta para a população, que de tão calejada, já está acostumada.

Impactos políticos e sociais

É evidente, que o escândalo abala seriamente a governabilidade do atual governo, que já enfrenta dificuldades econômicas, baixa popularidade e desconfiança no Congresso. A população, sobretudo os aposentados (que foram as maiores vítimas do golpe) sente-se traída por um governo que prometeu proteção social e justiça, mas entregou desleixo e conivência.

A crise expõe a contradição entre o discurso do “governo do povo” e a realidade de práticas que lesam justamente os mais vulneráveis. O chamado "Brasil do futuro", sonhado por milhões, vê-se novamente à mercê dos mesmos esquemas de bastidores, onde interesses partidários se sobrepõem ao interesse público.

Enquanto as investigações prosseguem, o país aguarda não apenas responsabilizações, mas também uma mudança real de postura e governança — sob pena de ver, mais uma vez, promessas de esperança afundarem sob o peso do velho patrimonialismo brasileiro.

Acredito que já passou da hora de finalmente refletirmos sobre nosso verdadeiro papel nesse processo, e pararmos de esperar eternamente o Brasil do futuro, para de fato agirmos para transformarmos o Brasil do presente. 


Leandro Carvalho Sanson é professor, advogado, coordenador acadêmico, ativista político filiado ao Novo e escreve para o Portal Pereira News.

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem

RECENTES