A VISITA - Por Geraldo Almeida

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Recentemente, recebi a visita de um amigo conterrâneo que há décadas não via. A recepção foi generosa, com um largo sorriso e um abraço entusiasmado de quem cultiva uma afeição sincera, que não se apagou com o longo tempo de afastamento do nosso convívio.

Apresentado o quarto onde o casal visitante dormiria e, “arriada a mala”, dirigimo-nos para a ampla varanda, onde conversamos por longo tempo, recordando nossa infância e adolescência nas décadas de 50 a 70, que concordamos em classificar como as décadas de ouro da humanidade.

Como de praxe em caso de visita, tracei e executei um roteiro de apresentação da cidade aos nossos amigos. Confesso que foi uma tarefa que me deixou um tanto apreensivo, porque, se eu, que aqui moro há cinco décadas, nunca me acostumei com o aspecto de Alagoinhas, o que diriam visitantes que sempre alimentam a expectativa de encontrar uma urbe agradável aos olhos?

A gastronomia é sempre um item a ser descoberto quando se chega a uma cidade, estado ou país. Embora, modéstia à parte, em nossa casa sempre tenhamos comida saborosa à mesa, fruto dos dotes culinários de minha esposa, eu gostaria de tê-los levado a um bom restaurante à la carte, o que, infelizmente, Alagoinhas não tem.

A primeira atividade do dia seguinte foi uma visita à nossa pequena fazenda, localizada à margem da BR-101, sentido norte. Logo na saída, nos deparamos com o perigoso cruzamento da Avenida Ayrton Senna com a BR-101, situação que beira à irresponsabilidade tanto da prefeitura quanto do DNIT. Qualquer distração ou afoiteza de quem espera para atravessar pode resultar em grave acidente, como já aconteceu, inclusive com vítimas fatais. E olhe que uma solução paliativa seria de simples e barata execução. A prefeitura ainda não se tocou, durante anos, de que o local comporta um trevo muito bem iluminado e com belo paisagismo, uma espécie de cartão de visita para quem chega.

No retorno, ainda cedo, mostrei-lhes nossos sítios históricos, ou seja, a igreja inacabada de Alagoinhas Velha, construída no final do século XIX, e a ruína da estação ferroviária São Francisco, enquanto relatei a ligação de ambas com a fundação e o desenvolvimento da cidade. Ficaram impressionados com a magnitude das duas edificações. Em relação à igreja, meu colega opinou que cairia bem como um centro cultural, após uma reforma interna e a colocação de uma cobertura que não descaracterizasse seu estilo arquitetônico de grossas paredes dobradas, erguidas com tijolos e argamassa de argila com sangue de boi, além da adoção de uma iluminação cênica. Pensei comigo: por que não havia pensado nisso antes? Meu colega aposentado, além de ser um bom agrônomo, mostra-se um amante da cultura! Quanto à estação ferroviária, verificamos que o prédio extenso e em ruínas ainda deixa visíveis as marcas da bela arquitetura inglesa e sua imponência no passado. Não deixei de levá-los à parte ainda utilizável da estação, transformada em um espaço cultural pela Fundação Iraci Gama e em sala de exposição das peças do magnífico artista plástico Littus Silva.

Não cogitava levá-los à central de abastecimento porque aquilo é o horror dos horrores! Prédios velhos e sem conservação, pisos imundos, sanitários quebrados e entupidos, barracas improvisadas e amontoadas, falta de espaço para estacionamento. E a higiene? Melhor nem falar! Suei frio quando meu amigo visitante disse que queria conhecer a feira livre. Tive que levá-los, e, não sei se por educação ou porque o lado bom da feira falou mais alto — com sua variedade de produtos alimentícios, de frutas a cereais, de carnes a pescados, além de roupas, artesanatos, etc. —, os visitantes se concentraram em adquirir algumas mercadorias e não comentaram sobre o aspecto da feira, que, para mim, é indigno da população.

Não poderia deixá-los ir embora sem dar um passeio pela cidade. Mostraram-se impressionados com o tamanho de Alagoinhas, com a quantidade de faculdades, com o tamanho da Praça Rui Barbosa, e com o binário que dá um ar de metrópole ao centro da cidade. Estranharam os calçamentos irregulares, que provocavam sacolejos no veículo, a falta de arborização das ruas, os canteiros e jardins malcuidados e sem vegetação florística, a profusão de quebra-molas sem sinalização (disseram nunca terem visto algo igual em nenhuma cidade que conheceram) e o trânsito confuso em alguns locais do centro da cidade, especialmente porque era uma sexta-feira, quando o comércio fervilha.

Na véspera de partirem, à noite, degustamos um bom vinho que sempre guardo para ocasiões especiais, acompanhado de um cardápio de comida japonesa fornecido pelo excelente restaurante Toca do Sushi. Dentre outros assuntos, a conversa ainda girou sobre as impressões deixadas pela cidade, quando os visitantes revelaram não esperar que Alagoinhas fosse tão populosa e bem servida no ramo de hotelaria, na educação superior, no setor industrial e comercial, já que eles moram em uma cidade de pequeno porte. Entretanto, apontaram outros aspectos negativos, como os ônibus urbanos velhos e malconservados, o crescimento desordenado da cidade com ruas tortuosas e estreitas, e, nos bairros populares, praças abandonadas, mato pelos passeios e lixo acumulado.

Para que não ficássemos tão mal na fita, contemporizei, dizendo que há uma expectativa positiva em relação ao novo prefeito, um jovem, mas experiente político, que certamente está atento a tudo o que foi elencado como mazelas da cidade.

Que assim seja!


Geraldo Almeida Souza é agrônomo aposentado, ex-vice-prefeito de Alagoinhas, e tem como hobbies a leitura, a escrita e a internet.

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