Confira a nova coluna do professor e advogado Leandro Sanson
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| Foto: Divulgação |
Há um tipo peculiar de visitante que aterrissa, pontual, nos municípios do interior do Estado quando o calendário entra no ano que antecede as urnas. Não são peregrinos, tampouco turistas que buscam o melhor da economia local. São políticos—muitos deles de outras regiões do Estado que, munidos de sorrisos ensaiados e promessas plurais, inauguram uma temporada de agendas “simbólicas”: fotografias nos eventos, passeio estratégico pela praça, bênção ao comércio, selfie com “quem manda” nos votos. Depois, apagam-se os holofotes, fecha-se o álbum, e o CEP do compromisso continua sendo outro.
Novembro chegou e já começou a romaria dos rostos conhecidos só de televisão que, curiosamente, redescobrem Alagoinhas quando o calendário entra no ano pré-eleitoral. Eles chegam com o sorriso de outdoor, GPS calibrado para os locais das festividades, pose na praça, “distribuição de bonés”, abraço no primeiro comerciante da fila, bênção à cultura local e uma agenda cheia de fotos. Obras e orçamento? só depois das urnas, quem sabe! É o turismo político em sua forma mais caricata: gente de fora que aparece para colher votos onde nunca plantou compromisso.
A ópera se repetiu no Bahia Beer 2025, que aconteceu entre 07 e 09 de novembro, com a temporada de barracas repentinamente povoados por “ilustres” visitantes em busca de holofote. E ganhou capítulo especialmente constrangedor no show de evangelização do Frei Gilson, no domingo (09/11/2025), quando políticos — da cidade e de fora — foram chamados ao palco para discursar e descobriram, entre vaias, que a plateia já aprendeu a diferenciar fé de palanque. Se o objetivo era catequese eleitoral, a “pregação” saiu pela culatra.
A questão é simples: voto não é souvenir de evento. Quem só aparece na véspera não conhece a fila do posto de saúde, as ruas esburacadas, não enfrenta ônibus lotado às seis da manhã, não discute o orçamento do ano, não acompanha licitação, não presta contas entre eleições. Quer ser lembrado em novembro, mas some em janeiro.
A ironia é simples: a mesma facilidade com que se arruma tempo para o evento não se vê, ao longo do mandato, para uma audiência com uma associação de moradores, uma visita técnica a um posto de saúde ou a destinação de recursos ao município. O turista político gosta de música alta e luzes; já a política pública gosta de planilha, relatório e prazos, ou seja, tarefas pouco instagramáveis.
Votar em quem tem ligação com o município (por origem, por residência, por atuação consistente) não é fechamento provinciano, mas estratégia de proteção do interesse local.
Curiosamente, muitos desses políticos turistas são trazidos e apoiados por políticos de nossa cidade, que por interesses pessoais, optam em apoiar pessoas que não possuem compromisso político com a região.
Para Alagoinhas — como para qualquer município — a régua precisa ser outra: vínculo com a cidade, presença fora da temporada, entregas verificáveis. Fotografia bonita não tapa buraco, discurso inspirado não reduz fila, selfie não abre vaga na creche.
Na urna, a escolha é entre o turista do voto e quem tem CEP político na cidade. E, convenhamos, se for para fazer turismo, que seja na praia ou nos inúmeros eventos que ocorrem durante os quatro anos em nossa cidade.
Alagoinhas não é escala. É destino! Quem quiser o voto da cidade precisa honrar o mínimo: presença, trabalho e resultado. A cada quatro anos, o roteiro se repete, mas cabe ao eleitor mudar o final.
Leandro Carvalho Sanson é professor, advogado, coordenador acadêmico, ativista político filiado ao Novo e escreve para o Portal Pereira News.

