Ciro tucano novamente . Faz sentido ?
Antes de começar, é importante que eu me apresente novamente: sou Gabriel Oliveira, bacharel em Direito e sempre tive interesse pela política, tanto em análises práticas quanto em um ponto de vista teórico. E, se você estiver se perguntando “Ah, será que não é o Gabriel da faculdade? Será que não é o Gabriel do colégio que debatia com os professores?” Eu respondo: sim, sou eu. Sigamos com a análise.
No último dia 17 de Outubro, Ciro Ferreira Gomes anunciou sua desfiliação do Partido Democrático Trabalhista ( PDT) após 10 anos filiado a legenda. Tal desfiliação se deu por motivos de discordâncias com a postura do partido a nível nacional e estadual no Ceará, uma vez que o partido vem se aproximando do governador Elmano de Freitas (PT), de quem é crítico ferrenho.
Em seguida, no dia 20 , o ex-presidente do PSDB-CE Ozires Pontes, anunciou o retorno de Ciro Gomes para a legenda após quase 30 anos de sua saída , o repercutiu na mídia no geral , levantando análises e debates acerca da filiação do ex-ministro e governador . A cerimônia de refiliação foi realizada no dia 22 de Outubro e contou com a presença de figuras como o também ex-governador Tasso Jereissati e o deputado do PL André Fernandes.
Tasso Jereissati na cerimônia de filiação , ressaltou o papel de Ciro como alguém que agregará e que será um vetor de diálogo :“O Ciro tem duas missões neste momento importantíssimos e históricas, uma em nível nacional: o Ciro vai ajudar a reconstruir umpartido que mais do que nunca é necessário ao Brasil, um partido de centro” , afirmou Tasso na cerimônia . A segunda missão dele, mais local, seria resgatar o “orgulho de ser cearense”. No dia 22, Ciro foi escolhido como novo presidente do PSDB-CE.
Tal retorno encontrou oposição dentro do PSDB. O ex-secretário-geral da presidência do governo Fernando Henrique Cardoso , Eduardo Jorge ( não confundir o ex-candidato do PV ) , tentou impugnar a filiação de Ciro Gomes por alegar conduta indecorosa do ex-pedetista em relação a membros históricos como o ex-senador José Serra ( leitor , segure essa informação).
O retorno do ex governador e ministro vem sendo analisado exaustivamente nos programas jornalísticos e na mídia no geral (o inclui até mesmo, canais no Youtube ). Este fato entretanto convida a todos que acompanham a política nacional a se perguntarem : Faz sentido Ciro tucano novamente??
Ciro e o PSDB
De fato, Ciro Gomes foi um dos fundadores do PSDB-CE. A legenda visava abrigar setores do centro, partindo da centro-direita e indo até a centro-esquerda do espectro ideológico ( o nome social-democracia é referência a uma ideologia esquerdista) . Ciro pertencia a centro-esquerda. Foi no PSDB, que Ciro virou governador do Ceará , sucedendo o também tucano Tasso Jereissati , seu padrinho político
É importante lembrar que Ciro foi o
primeiro governador da história do PSDB ( Tasso era do PMDB quando
assumiu o Ceará ) . Sua gestão foi uma continuidade do trabalho que
Tasso vinha fazendo até então. As gestões Tasso-Ciro, se pautaram
em um trabalho de modernização administrativa no estado, onde Ciro
Gomes enxugou a máquina pública e combateu a sonegação fiscal.
O governo Ciro Gomes foi marcado polêmicas , como seu desentendimento com algumas grandes empresas (uma delas era do irmão de Tasso Jereissati) e por méritos, como o prêmio Maurice Pate de combate a mortalidade infantil em 1993( prêmio da UNICEF). Tais fatos ajudaram a dar maior relevância ao PSDB no país a partir de então
Em 1994 , Ciro Gomes é convidado pelo presidente Itamar Franco ( PMDB) para integrar o Ministério da Fazenda , sendo o terceiro ministro do real ( escolha essa que FHC apoiou ).
Ciro como ministro, ajudou a consolidar o plano real nos últimos momentos dele. Entretanto, Ciro Gomes e o PSDB foram de maneira turbulenta , tomando estradas opostas e estacionando por vezes, em garagens que se contradiziam ( não estou pegando gancho na imagem acima não, leitor) . Mas como assim. Gabriel??
As oposições
Os desentendimentos de Ciro com os
seus colegas de partido começaram ainda em 1994 , onde o cearense
acusou Fernando Henrique Cardoso de ter se aproveitado do sucesso do
plano real para se lançar como candidato a presidente. Ciro apoiava
o nome de Tasso Jereissati para ser o candidato dos tucanos
Quando FHC assumiu a presidência, Ciro não poupou críticas a política econômica que o mesmo adotou , sobretudo a política fiscal e monetária , além de acusar Fernando Henrique de seguir uma cartilha neoliberal , e que inviabilizava um projeto coerente com as necessidades do país. Em seu livro “ O Próximo Passo” , publicado em 1996 , Ciro expõe críticas a condução da política econômica de FHC:
“ PSDB, paralisado pela sua condição de partido governista que não governa, ameaça ser lançado no caminho tradicional dos nossos partidos reformistas, já trilhado, desastrosamente, pelo PMDB: o roteiro da rendição ao pequeno realismo das elites, a fórmula dos acertos com os grandes empresários e banqueiros, conluios ornamentados por protestos de preocupação social. “
( GOMES, Ciro. UNGER, Roberto Mangabeira. 1996)
Em 1996, Ciro se desfilia em definitivo do PSDB e migra para o recém-fundado Partido Popular Socialista ( PPS) , do ex comunista Roberto Freire .
O cearense se torna então um grande opositor de Fernando Henrique e de sua política econômica , adotando uma linha nacionalista e alinhado a uma espécie de trabalhismo . Em 1998 , ele se torna candidato pela primeira vez a presidência da República adotando essa linha. Foi candidato pelo já citado , PPS.
Ciro também criticou José Serra tanto como colega de partido quanto como ministro do planejamento. Segundo Ciro Gomes , José Serra sabotou o plano real por diversas vezes na sua implementação , e além disso , criticou a atuação de José Serra como ministro do planejamento, acusando-o de favorecer indústrias paulistas.
Em 2002, na segunda candidatura de Ciro a presidência ( ainda pelo PPS) , o candidato escolhido para suceder FHC foi justamente o ministro José Serra . As farpas e acusações entre eles só pioraram , com Serra o acusando Ciro de ser um desequilibrado e Ciro fortalecendo que Serra era o candidato do governo e vendia promessas contraditórias com o que foi sua postura na gestão.
No segundo turno , após a troca de farpas para disputar contra Serra acaba vencendo a disputa e Ciro apoia Lula de maneira categórica . Quando Lula assume a presidência em 2003, Ciro Gomes é nomeado ministro da integração nacional e dá inicio a obras como a transposição do Rio São Francisco. Posteriormente, Ciro rompe com a gestão petista, mas isso é assunto para uma outra coluna.
Com o avançar dos anos, as críticas ao PSDB e as políticas adotadas e defendidas pelos seus membros foi sendo mantida por Ciro Gomes. Nos anos 2010, Ciro retorna ao debate público com suas ideias nacionalistas e de certa forma, nacional desenvolvimentistas e chega a assumir a Secretaria de Saúde do Ceará , no governo do seu irmão, Cid Gomes ( a época , no PROS ) . O cearense foi a os poucos retornando a ter força no debate nacional e em 2015 , ele se filia ao Partido Democrático Trabalhista, fundado pelo ex-governador tanto do Rio Grande do Sul quanto Do Rio de Janeiro , Leonel de Moura Brizola
Foi no PDT que Ciro encontrou espaço para levar em frente suas ideias de uma maneira mais coerente ( PDT é marcado pela sua forte defesa do trabalhismo) , e foi nele , que Ciro se mostra como uma figura novamente relevante na política brasileira, sendo candidato duas vezes pela legenda. Nesse período ele publicou um livro denominado “ Projeto Nacional: O Dever da Esperança” , onde ele não abandona as críticas ao PSDB.
“. Para minha grande decepção, o partido que eu tinha ajudado a fundar para implantar uma social-democracia no Brasil, o PSDB, e o plano econômico que tinha ajudado a consolidar, o Real, se desvirtuaram completamente durante o Governo FHC, se deixando corromper pelos interesses do novo rentismo e pela embriaguez eleitoreira de uma emenda de reeleição obtida por suborno. Logo após a posse, esses novos protagonistas da vida econômica passaram a comandar o governo e a submeter todas as outras frações do capitalismo nacional, cooptando a maioria da classe política “ ( GOMES. Ciro . 2018)
Percebe-se portanto, que Ciro e o PSDB tem tido muitas rusgas e enfrentamentos até agora. Mas , os vai e vens da política trouxeram Ciro de volta a o ninho dos tucanos e com isso, se tem desafios.
Opinião do colunista ( fui ousado desta vez)
Diferentemente de outras colunas que escrevi, serei mais pró-ativo ( e até mais ousado ) nesta que vos escrevo. É nítido que o PSDB está há muito tempo perdendo força política tanto a nível nacional quanto a nível estadual, a exemplo da candidatura de Datena em 2024, que não alcançou nem 2% das intenções de voto , vale lembrar que São Paulo é o estado mais tucano do país ( ficou de 1994 a 2018 com o PSDB no governo estadual) .
Ciro Gomes por sua vez, apesar de não ter vencido as últimas eleições presidenciais que venceu , adquiriu um relativo capital político dada sua presença no debate público . Ciro foi frequentemente entrevistado tanto na televisão quanto em jornais e em canais de Youtube , fora as lives que o mesmo fazia em redes como Instagram. Ciro inclusive possui o seu próprio quadro de entrevistas e reações acerca da política, “Ciro Games”
O PSDB , ao observar isso , pode ter visto uma oportunidade de através da volta do velho correligionário , ter novamente a força dos anos 90 e 2000 e alçar novamente , números eleitorais significativos. Ciro por sua vez , pode ter visto no enfraquecido PSDB , uma oportunidade de ser de fato um via entre a direita atual ( de quem Ciro é crítico desde que a mesma emergiu) e a esquerda entrelaçada ao lulo-petismo, como o PDT se tornou na visão dele. Mas há ainda uma reflexão a ser feita : como será o projeto de Ciro Gomes estando novamente no PSDB??
A busca por uma síntese entre o projeto de Ciro e aquilo que foi defendido pelo PSDB se faz necessário. Poderiam se encontrar nuances no antigo programa partidário tucano de 1988.
Amplo bastante para possibilitar a confluência de diferentes vertentes do pensamento político contemporâneo – por exemplo, liberais progressistas, democratas cristãos, social-democratas, socialistas democráticos o PSDB nasce coeso em torno da democracia enquanto valor fundamental e leito das mudanças reclamadas pelo povo brasileiro
( PSDB,1988)
Tal resgate do programa antigo ajudaria inclusive na busca atual do PSDB por ser um espaço de confluência de ideias ( percebam o uso de “por exemplo” na citação, o que não indica rol taxativo de ideias ) . Outras semelhanças entre Ciro e o programa antigo podem ser encontradas , como a defesa de “estatais estratégicas” por exemplo e críticas a ao “aberturismo irresponsável”. Mas , isso deve ser visto entre Ciro e o partido . Encerro aqui minhas falas . Qual sua opinião sobre tudo isso ??
Sou Gabriel Oliveira, e essa é minha visão dos fatos. Elabore a sua . Muito obrigado pela atenção !




























Excelente artigo, com bastante embasamento histórico e fundamentado. Este movimento do Ciro reflete o posicionamento que o PDT vem tomando, com alianças que estão gerando descontentamento na sua maioria.
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