Da esbanjação de Brasília ao deslumbramento de Alagoinhas - Por Leandro Sanson

Do vento caro do deserto, muito longe da realidade local

Foto: Divulgação

Enquanto os holofotes de Brasília capturam cada detalhe dos trajes, viagens e mobiliário da primeira-dama, Janja Lula da Silva, um espetáculo de prioridades invertidas se desenrola em menor escala, mas com igual estupefação, a mais de 1.500 quilômetros de distância. No nosso município de Alagoinhas, a população assiste a uma gestão que, inspirada talvez pelos ares da capital federal, parece mais preocupada com o brilho internacional do que com a poeira de suas próprias ruas.

É o caso da recente e controversa viagem do prefeito de Alagoinhas, Gustavo Carmo, e o secretário municipal (Deraldo Carlos) para a luxuosa Expo City em Dubai. Com a justificativa oficial de "buscar investimentos e parcerias para o desenvolvimento econômico da cidade", em uma jornada ao oásis de modernidade dos Emirados Árabes. As fotos, certamente, ficaram impecáveis: líderes locais posando em um cenário de arquitetura futurista, vendendo uma imagem de progresso e visão global.

O problema, caro leitor, é o cenário que fica para trás.

Enquanto a comitiva se maravilhava com a grandiosidade de Dubai, os cidadãos de Alagoinhas continuavam sua saga diária contra problemas crônicos e urgentes, que nenhuma parceria internacional parece capaz de resolver a curto prazo.

A Realidade que o Prefeito deixou para trás...

·     Saúde em Colapso: As Unidades Básicas de Saúde frequentemente operam acima de sua capacidade. Relatos de longas filas para marcação de exames e consultas com especialistas são a norma. A falta de alguns medicamentos básicos e a carência de profissionais em áreas essenciais, e até o mamógrafo está quebrado, transformam o direito à saúde em uma verdadeira loteria. A Policlínica de Alagoinhas virou um caos indigno para quem lá busca seus serviços. Enquanto se discutem investimentos de cifras milionárias em Dubai, um cidadã de Alagoinhas pode não conseguir um simples exame de mamografia.

·     Educação Precária: Escolas municipais, tanto na zona urbana quanto na rural, sofrem com a falta de infraestrutura adequada. Salas de aula superlotadas, ausência de climatização sob o forte calor da região, quadras esportivas inacabadas e até mesmo problemas estruturais básicos são a realidade de alunos e professores, sem oferecer um ambiente minimamente digno para a aprendizagem.

·     Infraestrutura Urbana e Rural Abandonada: Basta um breve passeio pelos bairros periféricos (e até no Centro da cidade) ou pelas estradas vicinais para constatar o abandono. Ruas esburacadas que se transformam em rios de lama a cada chuva, falta de saneamento básico em diversas localidades e uma iluminação pública deficiente compõem o cotidiano de milhares de famílias. A ironia é gritante: busca-se o brilho de uma cidade-modelo no exterior enquanto a própria cidade carece do básico.

Gestão de Marketing, Resultados Práticos Inexistentes

O que se observa, neste primeiro ano do atual mandato, é uma gestão obcecada pela própria imagem. A comunicação oficial é um “espetáculo” de marketing digital, com publicações constantes em redes sociais, vídeos bem produzidos e uma narrativa de que supostamente o "trabalho que não para". No entanto, na prática, os resultados são pífios. As ações se concentram em eventos, ordens de serviço que demoram a se concretizar e muita propaganda, mas pouca solução efetiva para os problemas estruturais.

Aliás, os comentários pelos corredores da Prefeitura é de que o Prefeito é extremamente preocupado em promover sua imagem pessoal! Verdade? Não posso afirmar, mas alguns indícios são difíceis de ignorar. Afinal, até hoje é comentado o episódio desse ano durante o aniversário da cidade (que coincide com o do Prefeito), no qual ele, ou alguém próximo a ele, encheu a cidade de outdoors parabenizando o PRÓPRIO PREFEITO, e curiosamente IGNORANDO A CIDADE no qual governa.

E durante o São João (festa muito bonita por sinal) no qual todas as maiores atrações (pagas com dinheiro público e não do Prefeito) agradeciam no palco insistentemente a pessoa do prefeito Gustavo Carmo. A banda “Calcinha Preta” chegou a fazer agradecimentos praticamente no final de cada música cantada.... algo que virou até comentários e piadas entre o público presente.

Sem falar nos famosos e midiáticos protocolos de intenções de instalações de novas empresas, refinarias e etc; que até então ficaram apenas nas intenções. É quase como a concretização daquele velho ditado popular, “de boas intenções o inferno está cheio”. E os resultados práticos? Bom, esses ficam para depois!

Aparentemente temos uma administração municipal autocêntrica, priorizada e focada em promover a imagem pessoal do Prefeito. Motivo? Insegurança, Ego, Vaidade, Carência!? Não sei dizer.... talvez só a psicologia e o marketing político expliquem!

A viagem a Dubai é o ápice dessa estratégia: um ato de grande visibilidade, que gera conteúdo para as redes e vende a ideia de um prefeito "articulado", mas cujo retorno prático e imediato para a população é, na melhor das hipóteses, questionável. O Prefeito inclusive em entrevista em uma emissora local disse que a referida viagem deveria ser “motivo de orgulho para população de Alagoinhas”. Particularmente discordo, orgulho para mim seria ter um Prefeito aqui e agora na nossa cidade colocando a mão na massa para resolver os inúmeros problemas de nossa cidade, que carecem de atenção, prioridade e Gestão!

Ainda Pasmem! Como se não bastasse, o Prefeito ainda aproveitou o “Tur Dubai” para conceder entrevista (29/10) rasgando elogios a dois Ex-Condenados na Operação Lava Jato, ou seja, Luiz Argolo (corrupção e lavagem de dinheiro), que segundo dizem ensaia para tentar voltar a cena do crime, e Luiz Fernando Pezão, ex-governador do Rio de Janeiro (corrupção e improbidade administrativa). Um verdadeiro tapa na cara da população de Alagoinhas! Mas aparentemente essa questão de moralidade na política é problema do POVO, então...

  Fica a pergunta: qual a prioridade? Impressionar investidores estrangeiros ou garantir que uma ambulância consiga trafegar por uma rua sem quebrar no caminho?

Tanto a esbanjação de Brasília quanto o deslumbramento de Alagoinhas ferem dois princípios basilares da administração pública: a moralidade e a eficiência. O dinheiro do contribuinte não deve ser um recurso para a construção de imagem pessoal ou para a satisfação de vaidades, mas um instrumento para a promoção do bem-estar coletivo.

O Prefeito informou que a viagem não seria custeada pelo Município. Menos mal! Mas aparentemente esquece que “tempo, dedicação e prioridades” também são “recursos”, ainda mais em um município como o nosso que possui inúmeras carências.

Ao fim, o cidadão de Alagoinhas, preso no trânsito de uma rua esburacada, talvez se pergunte se os "investimentos" trazidos de Dubai incluem, por acaso, uma solução para os problemas que ele vive aqui e agora. A resposta, provavelmente, está soprando no vento caro do deserto, muito longe da realidade local.


Leandro Carvalho Sanson é professor, advogado, coordenador acadêmico, ativista político filiado ao Novo e escreve para o Portal Pereira News.

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