Um novo governo: as expectativas são suficientes para “dar certo”? - Por Ednaldo Sacramento

Em sua estreia como colunista do Portal Pereira News, o professor e ativista político analisou os desafios e perspectivas da nova gestão municipal de Alagoinhas

Foto: Ednaldo Sacramento


As últimas eleições municipais levaram Alagoinhas a uma nova administração. O prefeito eleito, Sr. Gustavo Carmo, obteve 50,9% dos votos válidos. Foram 41.705 votos conquistados de um total de 114.306 eleitores aptos a votar, o que representou 36,5% dos eleitores do município. Quando do início de todo e qualquer governo, é natural a criação de expectativas de que ele “dê certo”. Duas perguntas, no entanto, precisam ser respondidas em relação à nova gestão: a primeira é se teremos um “novo governo” e a outra, o que significaria “dar certo”.

Observam-se grandes expectativas vindas dos que votaram no novo prefeito e até de parcela dos que fizeram outras escolhas, mas que terminam alimentando esperanças de virmos a ter um bom governo. Aqui, faço referência às pessoas do povo, não a certas figuras que mais parecem camaleões, de tanto se metamorfosearem e anunciarem que estão esperançosos; mas isso é assunto para outro momento.

Um novo governo implicaria uma nova composição, novas posturas e, principalmente, novas diretrizes. Nesse sentido, as próprias falas do atual chefe do Executivo municipal, em diferentes momentos, nos deixam dúvidas. Primeiro, ele foi o indicado do ex-prefeito Joaquim Neto, portanto, é o seu sucessor. Nesse governo, ocupou vários postos, aos quais faz elogios, e mantém um inquietante silêncio quanto à situação encontrada, seja em relação a contratos ou às finanças públicas. Sendo assim, o processo de “transição” é outro elemento que reforça a ideia de continuidade de governos.

Até mesmo o grupo político que faz parte da nova composição e que poderia indicar se tratar de um novo governo se mantém calado em relação à situação encontrada, fato que os torna cúmplices e eleva as suas responsabilidades pelas amarras que existirem.

Seria de se imaginar o constrangimento de membros do grupo político que um dia apresentou um perfil de esquerda, ao compartilhar um governo com a atual composição. Figuras que, apesar de serem do Legislativo, disputavam o comando da Superintendência de Transporte e Trânsito (SMTT) foram conduzidas a postos-chave da administração. Outras arrumações preservaram ocupantes de secretarias e diretorias do governo anterior e ainda brindaram o deputado federal Márcio Marinho, do Republicanos, com a nomeação de seu apadrinhado, o Sr. Djalma Santos, para a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Rural e Meio Ambiente (SDRA).

Sem constrangimento, o vereador Thor de Ninha (PT), em entrevista ao rádio, afirmou que essa aliança se deu para “evitar que a direita saísse vitoriosa em Alagoinhas”. Para completar a composição, mais um quadro político que fez parte dos governos anteriores, o conhecido João Rabelo, foi anunciado para ocupar a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (SEDES), tendo ao seu lado o Rildo Souza, de triste memória desde a gestão João Fiscina. Fica difícil, então, vereador Thor, entender como é que se derrota a direita dessa forma. O raciocínio vale também para o futuro que bate às portas e afeta os interesses da classe trabalhadora como um todo: qual será o time de deputados federais que receberá os votos dos alagoinhenses com o apoio dessa turma?

Espero que, até aqui, tenham ficado indicações suficientes para um posicionamento sobre se teremos, ou não, um novo governo. Por outro lado, é preciso afirmar que não basta torcer para que ele dê certo. No mínimo, temos que analisar as sinalizações. Sempre que se toma decisões, estamos sujeitos a adotar ações acertadas e outras não. Portanto, não se trata aqui de indicar alguns acertos, mas de se observar os referenciais.

Daria “certo” o governo, caso reduza drasticamente os alagamentos em nosso município, garanta água potável nas torneiras para toda a população e recupere nossos cursos d’água? É claro que seria ótimo que isso acontecesse, mas ainda teríamos pendente a situação caótica do transporte público, a infraestrutura urbana que viabilize uma mobilidade eficiente e, dentre outras ações realizáveis, uma atenção básica à saúde que não obrigue nossa população a procurar o Hospital Regional para fazer um simples curativo ou tratar uma dor de barriga.

Independentemente de termos ou não um “novo governo”, para que ele dê certo, além da sua composição, seriam necessárias mudanças profundas no seu perfil de atuação. Acreditamos em uma postura diferente, ao não “terceirizar” decisões. No entanto, seriam indispensáveis novas diretrizes e respeito às promessas, sendo essa mais uma questão para futuras conversas, especialmente sobre a “participação popular”. Quanto às diretrizes, essas, sim, são fundamentais para que um governo possa “dar certo”.

Faria muito bem ao prefeito, assim como aos sinceros militantes das organizações políticas que, verdadeiramente, se preocupam com a população, à imprensa e aos trabalhadores em geral, observar as palavras pronunciadas pelo novo gestor do SAAE, em entrevista a uma emissora de rádio. O Sr. Renavan Andrade Sobrinho, falando sobre desafios, afirmou que “para melhorar o serviço é necessário compromisso e interesse”. O Sr. Renavan destacou “a importância do quadro de funcionários próprios (servidores concursados), de carreira, que conhecem o serviço e garantem a continuidade operacional, independentemente da mudança de gestores”, no que concordamos plenamente.

Se, em todo o serviço público do município, fosse dada ênfase ao quadro próprio de pessoal e, também em acordo com a sua visão, os serviços fossem executados de ponta a ponta por um único prestador, de preferência uma empresa pública municipal, aí, sim, estaríamos diante de novas diretrizes, ao invés de drenar recursos públicos para empreiteiras. Certamente, se o governo do nosso município tivesse sua composição com um perfil próximo ao do novo gestor do SAAE, poderíamos alimentar esperanças de que daria certo.

Ednaldo Sacramento é operário, professor aposentado e dirigente político.

1 Comentários

  1. O novo gestor do SAAE, de fato, é bastante qualificado, uma excelente indicação.

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