Confira o novo artigo da coluna do professor e ativista político filiado ao PSTU
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| Foto: Divulgação |
Tem sido amplamente divulgado que na COP30 existiram dois espaços de atuação, que seriam a Green Zone (Zona Verde) e a Blue Zone (Zona Azul). No entanto, em dois outros espaços se desenvolveram importantes debates. Na grande imprensa, pouco se falou da Cúpula dos povos e, nada sobre a agriZONE. Na Green Zone se realizaram diversificadas discussões, permitidas à participação da sociedade civil, contando com entidades sindicais, movimentos sociais, cientistas etc. Esse espaço manteve alguma aproximação com a Cúpula dos Povos, este sim, um evento autônomo que, além de identificado com a trajetória de debates profundos visando respostas para a questão climática e de demandas históricas, contou com a organização, disposição de luta e o protagonismo dos movimentos sociais, com a participação marcante dos povos da floresta. Da Blue Zone participaram “delegados”, sejam eles chefes de Estado ou autoridades governamentais, bem como membros de organizações privadas, incluindo entidades empresariais. E a agriZONE, o que foi e qual o seu significado?
Diferentes narrativas serão
criadas para qualificar a COP30, a Conferência das Nações Unidas para as
questões do clima, realizada em Belém (PA), entre os dias 10 e 22 de nov. de
2025. Alguns falam em “fracasso”, enquanto outros buscam destacar os “avanços”
que teriam sido alcançados. Essas análises precisariam ser realizadas confrontando
a situação em que vivemos, o seu nível de gravidade com a disposição
demonstrada para se adotar medidas concretas para seu enfrentamento. Mas há
outro desafio, tanto para uma avaliação coerente e, mais ainda, para se brecar
o ritmo de destruição do planeta, que é o da disseminação de informações,
livres da manipulação. Indispensável se atentar para “quem são os personagens
que tomam as decisões”. E aqui entra a agriZONE. Próximo ao pavilhão oficial da
Conferência foi organizado esse espaço, dedicado especialmente ao agronegócio,
idealizado pela Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA) e patrocinado
financeiramente com investimentos de gigantes multinacionais, a exemplo da
Bayer – maior produtora de agrotóxicos no mundo. Aliás, o governo autorizou o
registro de 30 novos agrotóxicos, enquanto acontecia a COP30.
A recepção na agriZONE coube à Embrapa,
empresa pública brasileira de pesquisa agropecuária e, acreditem, lá funcionou
o Ministério da Agricultura e Abastecimento durante a realização da COP30. Sim,
foi na casa do agro - espaço idealizado pela CNA, a máxima representação do
agronegócio e da bancada ruralista, que funcionou o Ministério da Agricultura
do governo Lula. Seu lugar na Blue Zone, local de negócios e de decisões
estava garantida. E o que dizer sobre a participação dos povos da floresta, de
indígenas e de cientistas que há décadas se dedicam a estudar as mudanças
climáticas e alertam para os sérios riscos à vida na Terra? A esses restaram os
espaços de protestos, arduamente conseguidos, sob o ostensivo e crescente
reforço na “segurança”!
Mas, afinal, após treze dias de discussões a que resultados
se chega? A pauta foi diversificada, no entanto, as atenções se concentraram em
algumas questões, especialmente a redução no uso de combustíveis fósseis,
desmatamento e a propagada transição energética “justa”. O “Mapa do caminho da
transição energética” para um mundo sem combustíveis fósseis, ideia do
presidente Lula, não foi adiante. O “Pacote de Belém (PA)” ficou muito aquém. Mas,
de que valeriam declarações de intenções e compromissos? O Acordo de Paris,
firmado em 2015, havia colocado como meta limitar o aquecimento global a 1,5 oC
acima dos níveis pré-industriais. No ano passado já se superou esse objetivo
(1,6 oC) e os fenômenos climáticos extremos se fazem cada dia mais
presentes. Há 33 anos, na ECO-92 - Conferência do Meio Ambiente, realizada no
Rio de Janeiro, adotou-se o conceito de “desenvolvimento sustentável”,
convertido pelo capital em um suposto “crescimento econômico sustentável”. A
realidade já deu abundantes demonstrações de sua impossibilidade.
Vivemos uma época de estupendo desenvolvimento das ciências.
Há unanimidade entre especialistas que estudam as questões ambientais de que
medidas imediatas precisam ser tomadas sob o risco do colapso climático. Os
alertas são de que “estamos chegando a pontos de não retorno, tanto na floresta
amazônica quanto no clima global (...)”. Vindo dos estudiosos também se ouve
que estamos indo a mais uma extinção em massa de espécies no planeta Terra. Ou
seja, inúmeras espécies irão desaparecer muito mais rápido que suas
substituições. Uma interrogação se impõe. Além dos alertas, será que os
fenômenos climáticos extremos, com chuvas torrenciais, enchentes, terremotos,
ondas de calor, ao lado de estiagens prolongadas e até da desertificação não
são suficientes para expressar que se vive um momento crítico? Para esses,
talvez, não vale a pena seguir na leitura, já que algumas causas do
negacionismo estão cimentadas e fogem à racionalidade. Por outro lado, entre
estudiosos e a classe política, mesmo cientes da gravidade da situação, parcela
considerável busca “um caminho viável”, acorrentados nas premissas da ECO-92,
de possibilidade de um desenvolvimento sustentável.
A busca de “um caminho viável” sem ir à verdadeira causa da
crise ambiental que vivemos é um comportamento tão nocivo quanto o dos
negacionistas da ciência e dos núcleos capitalistas que só pensam no lucro.
Dois segmentos anunciam suas soluções para o problema. Uns pretendem “queimar
cada vez menos combustíveis fósseis (carvão mineral e petróleo)”, enquanto para
os que aparecem como representantes dos trabalhadores, a exemplo de
sindicalistas da CUT e seus assemelhados, a principal prioridade seria a tal da
“transição energética justa”. Assim, nenhum deles vai à raiz do problema, que é
a necessidade de redução do volume de geração de energia e, mais ainda, de diminuição
drástica na extração de recursos da natureza!
Discute-se a transição energética, ou seja, a substituição de
fontes fósseis de energia por outras menos poluentes, mas não existe disposição
para se produzir menos energia. O modo de produção capitalista exige
crescimento contínuo e permanente, enquanto a natureza e seus recursos são
finitos. Isso significa que, no atual ritmo de produção não há tempo para que a
natureza se regenere. A dita sociedade civil presente na COP30, a exemplo da
CUT, ignora a necessidade de transformação profunda no atual modelo de produção
de mercadorias, representado pelo capitalismo. Uns visam o lucro, e os
identificamos como membros da direita ou da extrema direita e que representam
os interesses do capital. Outros, que se esforçam para aparecer como “de
esquerda”, também não se preocupam com o futuro da humanidade, e nem mesmo com
a crise climática que já é uma realidade. A esses interessa tentar garantir
seus lugares em instâncias de poder, seja sindical, parlamentar ou uma
“boquinha” no Executivo. Para eles, a dissimulação na informação cumpre grande
papel. Lá também apareceram algumas figuras que, entre um misto de vaidade e
ingenuidade, imaginam estar contribuindo para um mundo melhor. Mas, não
carecemos de ideias, e sim de ações!
Por fim, não se pode atribuir o resultado da Conferência à infraestrutura, nem a incidentes, sejam lá quais eles tenham sido. Os impasses permanecerão até quando a questão ambiental depender de financiamento, medida que alimenta a roda do capital!

