Transição sem diagnóstico e pouco participativa - Paulo Dias

Confira a coluna de hoje do jornalista Paulo Dias

Foto: Fernando Duarte / Bahia Notícias

Como se trata de um sucessor apoiado pelo prefeito, não se esperam grandes mudanças nem grandes estardalhaços na transição. Se fosse um opositor a ocupar o cargo, haveria a necessidade de mostrar ao público como encontrou a administração municipal. Isso, em linguagem técnica, chama-se diagnóstico. Mesmo que explorado politicamente, continua sendo um diagnóstico.

De modo geral, já nas campanhas, confundiram-se dois termos: “plano” e “propostas”. Parecem, de fato, a mesma coisa, mas não são. O plano é exatamente um conjunto de propostas articuladas por princípios e com base em um diagnóstico. Sei que muitos — a maioria — que leem esta coluna sabem disso, mas não custa alertar. Propostas desarticuladas foram o que se viu durante o período eleitoral. Quem mais se aproximou de um plano de governo foi, mais uma vez, Ednaldo Sacramento. Leandro Sanson e Gustavo Carmo chegaram perto de um esboço de plano de governo. No entanto, todos pecaram por não apresentar um diagnóstico consistente, fundamentado em números. Quanto aos princípios, foram apresentados vagamente. Como ser o governo do futuro sem abandonar a velha prática do improviso e do imediatismo?

Mas vamos deixar de lado os princípios e focar no diagnóstico. Para Gustavo Carmo, prefeito eleito, é óbvio que custa muito fazê-lo, pois significa simplesmente expor as deficiências de seu padrinho político, Joaquim Neto. Isso explica uma transição tão insossa e sem diálogo com o contribuinte. Lembre-se que a dialogicidade foi mote de campanha que norteou o Falaê, mas foi deixado de lado em seu discurso final. Qual foi o resultado do Falaê, já que este foi uma consulta popular? O instrumento de democratização falhou, como seu inspirador, o Orçamento Participativo petista, pelo mesmo motivo: falta de quórum nas reuniões.

Já estamos na metade da transição, considerando que dezembro tem, no máximo, três semanas. A única pauta gerada envolveu questões relacionadas às exonerações e à sucessão na Câmara de Vereadores, nada de relevante para a população, apenas para os políticos e suas entourages. Isso coloca o político acima das pessoas, muito acima. Gustavo Carmo é competente, honesto e bem-intencionado. Resta saber se tem pulso firme para não se deixar levar pela mesquinhez que costuma caracterizar, especialmente, o baixo clero. Já se sabe que a luta por cargos no governo será seu grande desafio.

As notícias confirmam isso. Até agora, sua grande decisão foi consolidar um terceiro mandato para Cleto da Banana, quando a democracia pressupõe alternância de poder. E o planejamento da saúde, da educação, da cultura, do esporte, pelo menos para os primeiros cem dias? É preciso apresentá-lo à população, mesmo que não se esclareça qual foi a base diagnóstica adotada. 

Por: Paulo Dias - Jornalista e colunista do Portal Pereira News

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