O editor-chefe do Portal Pereira News realizou uma síntese que nos leva a compreensão sobre o destino dos votos do ex-presidente no pleito eleitoral de 2024 em Alagoinhas
Foto: Sérgio Lima / Poder 360
Caro leitor, cara leitora que acompanha o Portal Pereira News. Confesso que eu tenho evitado fazer comentários políticos relacionados ao processo eleitoral de Alagoinhas em 2024, justamente por entender o poder de um veículo de comunicação para a formação da opinião pública, e também como forma de evitar inclinações que influenciem o voto do eleitor. Entendo que a imprensa deve proporcionar equidade de informações de maneira isonômica e imparcial entre as candidaturas, para que o povo possa tirar suas próprias conclusões e tomar as melhores decisões no dia 6 de outubro, data esta que irá definir o futuro do município pelos próximos quatro anos, contando a partir do dia 1º de janeiro de 2025. Que se faça valer o sufrágio universal, que foi algo tão pelejado, árduo e caro de ser conquistado em nossa nação.
Mas um questionamento que muitos têm feito em Alagoinhas é o seguinte: Cadê os bolsonaristas de Alagoinhas? Em quem eles irão votar? É sobre isso que iremos falar nesta coluna e tentaremos entender o que tem ocorrido com a turma de direita e os conservadores locais.
Caso você seja um preguiçoso e não goste de ler, pode ir parando por aqui. Este artigo é para quem, de fato, tem interesse em saber um pouco mais dos melindres, bastidores e entrelinhas coexistentes no universo político da principal cidade do litoral norte e agreste baiano.
A Pulverização
O ex-presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, obteve no 2º turno das eleições de 2022 em Alagoinhas 26.077 votos, enquanto o presidente Lula obteve 59.147 votos. Contudo, devemos lembrar que no ano de 2020, o prefeito Joaquim Neto foi eleito com 25.684 votos naquela acirrada disputa contra o ex-prefeito Paulo Cézar. Então, não podemos menosprezar a pontuação eleitoral alcançada pelo ex-capitão do exército no solo alagoinhense, que faz parte de um estado majoritariamente dominado pela esquerda petista.
Fonte: G1 Bahia
Mas, para começarmos a decifrar a destinação dos mais de 26 mil votos de Bolsonaro em Alagoinhas neste pleito municipal de 2024, precisamos reconhecer o perfil das figuras que dizem se opor ao Partido dos Trabalhadores no município, pois nem todos que apertaram o número 22 há dois anos podem ser chamados propriamente de “bolsonaristas”.Neste ano, seis candidaturas à Prefeitura Municipal de Alagoinhas foram homologadas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e apresentadas aos eleitores. São elas:
- Gustavo Carmo (PSD);
- Paulo Cézar (UNIÃO BRASIL);
- Leandro Sanson (NOVO);
- Pastor Lins (PL);
- Catarino Pinto (PSOL);
- Ednaldo Sacramento (PSTU).
Em tese, os votos da direita conservadora de Alagoinhas iriam (ou deveriam) escoar para a candidatura do Pastor Lins, que é o candidato da mesma sigla do ex-presidente. Apesar disso, o ex-vereador (que foi um dos primeiros da cidade lá atrás a se colocar como defensor de Bolsonaro) não tem conseguido aderência dos principais segmentos e movimentos de direita da cidade, inclusive tendo enfrentado diversas polêmicas e rachas dentro do seu grupo (que já não é grande) desde que assumiu o diretório municipal da legenda através do vereador Anderson Baqueiro e o Deputado Federal Capitão Alden (clique aqui para ler a matéria que trata sobre isso).
Da esquerda para a direita: Picolé/João Roma/Pastor Lins/Capitão Alden/Diego Castro/Anderson Baqueiro.
Foto: Divulgação / Redes Sociais
Daqui a pouco falaremos um pouco mais de Baqueiro, mas antes disso precisamos citar o nome de dois conhecidíssimos ‘bolsonaristas’, que hoje estão com o Pastor Lins: Domingos Pereira e Antônio José Picolé de Oliveira. Depois dos 'shows' protagonizados por essas duas figuras nas rádios da cidade, parece que a paz voltou a reinar no trio formado por Domingos, Picolé e Lins. Com vídeo gravado nas redes sociais, o empresário do ramo de delicatessen pediu desculpas em público ao pastor e anunciou a sua candidatura a vereador pelo mesmo partido. Nos bastidores, Picolé também tem declarado que irá votar 22 no dia 6 de outubro. Entretanto, apesar da lua de mel, a candidatura de Lins ainda não caiu nas graças do 'povão' e pouco tem se visto de movimentação pelas ruas urbanas e rurais. Ainda é uma campanha muito focada no interior do Tabernáculo Profético Hesedh (igreja evangélica liderada pelo Pastor Lins) e que não tem atraído outros grupos protestantes. Vale lembrar que o 2º maior tempo de rádio no horário eleitoral gratuito em Alagoinhas pertence justamente ao PL de Pastor Lins. Ainda não sabemos qual será o impacto disso nos dividendos eleitorais.
Domingos Pereira e o Pastor Lins
Foto: Divulgação / Redes Sociais
Falando agora sobre o candidato Gustavo Carmo (PSD), ainda que esteja ao lado do PT, tendo o ex-vereador Luciano Sérgio como vice de chapa, isso não tem atrapalhado em grandes proporções a aproximação de indivíduos que votaram em Bolsonaro em 2022. Alguns até alegam constrangimento em dividir palanque com os “estrelas vermelhas”, mas por questões estratégicas e de tática eleitoral, se fez necessário adentrar a este projeto como forma de garantir a manutenção de um mandato ou outras contrapartidas políticas.
Como disse o deputado federal Claudio Cajado (PP) no dia 20 de agosto de 2023, “Gustavo Carmo une as pontas da política em prol de Alagoinhas”. Cajado, que foi braço direito de Bolsonaro na Câmara dos Deputados de 2019 a 2022, citou ainda que “Gustavo conquistou uma coalizão suprapartidária que vai desde a esquerda até a direita”. A realização do Programa “Falaê Alagoinhas” (programa de escuta popular realizado pelo grupo) mostrou, em uma das edições temáticas voltadas para discussões do segmento evangélico, que grande parte dos pastores do município estão imbuídos nesta empreitada.
Jair Bolsonaro e o Deputado Federal Claudio Cajado (PP)
Foto: Divulgação / Redes Sociais
Ainda sobre Gustavo, precisamos citar também o nome de três vereadores que pediram voto para Bolsonaro em 2022, mas agora estão neste propósito do grupo liderado pelo Governador Jerônimo Rodrigues em Alagoinhas: Anselmo Bal, Anderson Baqueiro e Djalma Santos.
O vereador Anselmo Bal, apelidado carinhosamente de 'Balsonaro', perdeu as contas de quantos expedientes utilizou nos anais da Câmara para exaltar o ex-presidente. Na mesma direção vem o vereador apoiado pela Igreja Universal do Reino de Deus, Djalma Santos, que até outro dia não podia escutar o nome do PT.
Vereador Anselmo Bal (Balsonaro)
Foto: Divulgação / Redes Sociais
Chamo a atenção ainda mais de Baqueiro, pois, apesar de ser um apoiador ativo das causas 'bolsonaristas' (como, por exemplo, a defesa dos Clubes de Tiro) em Alagoinhas e intermediador indireto da candidatura de Lins em Alagoinhas, preferiu seguir um caminho mais pragmático este ano. Há indícios, inclusive, de que houve a tentativa de levar a sigla do PL para o lado ‘gustavista’ no momento em que o ativista Thiago Conceição foi indicado para a presidência do Diretório Municipal, mas o passado vermelho do jovem e a imposição dos cardeais partidários para que a sigla fosse para um “bolsonarista raiz” influenciaram na “não ida” do partido presidido nacionalmente por Valdemar da Costa Neto para o ninho do PSD. Isso tudo sem contar a promessa da construção de uma praça da Bíblia em Alagoinhas, que fez com que mais evangélicos ainda integrassem o grupo ao ter a sua antiga reivindicação atendida pelo prefeito Joaquim Neto e pela deputada estadual Ludmilla Fiscina, tendo o presidente do Legislativo, Cleto da Banana, como um dos grandes entusiastas deste projeto. Então, pelo que constatamos, questões ideológicas nacionais pouco estão influenciando no cenário local.
Alguns ‘bolsonaristas’ mais radicais, que não aceitam estar no mesmo grupo em que o PT está ou que desaprovam a gestão joaquinista, optaram por seguir o grupo do União Brasil, que tem como candidato o ex-prefeito Paulo Cézar Simões. Grande parte do grupo 'cezista', mesmo que não explicitamente, apoiou a dupla ACM Neto-Bolsonaro em 2022. Mas as duas principais lideranças do 'bolsonarismo' que integraram esse grupo são: Val Andrade (PRTB) e Jonatan Silva (PDT). Ambos foram candidatos a deputado estadual pelo município de Alagoinhas em 2022 utilizando a defesa dos princípios de "Deus, Pátria e Família".
Val Andrade, que é líder do Movimento Consciência Brasil (Partido em formação) em Alagoinhas, obteve 545 votos em 2022 quando ainda estava no PSC e foi um dos primeiros apoios conquistados pelo ex-prefeito Paulo Cézar enquanto ainda estava na fase de pré-campanha. Hoje, Val está no PRTB, pois o seu novo partido não conseguiu regularização em tempo hábil no TSE para participação neste pleito, e está disputando a eleição para vereador.
Val Andrade e o MCB declarando apoio a Paulo Cézar
Foto: Divulgação / Redes Sociais
Já Jonatan conquistou 1.720 votos em 2022 para deputado estadual pelo PL. Lembremos também que em 2020, o oficial de justiça disputou a eleição para o Executivo de Alagoinhas, quando obteve 1033 votos naquela ocasião. Agora Jonatan integra o ninho 'cezista' pelo PDT, buscando um mandato parlamentar.
Por terem aceitado o desafio de compor o grupo liderado por PC com a prerrogativa de derrotar o avanço do petismo, os dois têm sido recorrentemente criticados por desafetos justamente pela suposta hipocrisia, pois ao mesmo tempo em criticam o presidente Lula por corrupção, apoiam um quadro que coleciona problemas judiciais no que tange o erário público.
Para não cansar você que já chegou até aqui, iremos agora falar do bolsonarismo na candidatura do professor Leandro Sanson pelo partido Novo. Por mais que não se julguem conservadores, mas sim liberais, existe uma proximidade entre os admiradores do programa do partido laranja e o bolsonarismo: a aversão ao PT. Em grande maioria, quase que absoluta, os filiados do Novo em todo o país votaram em Bolsonaro no 2º turno de 2022 para evitar o retorno de Lula ao poder, por mais que Jair não represente na essência o governo almejado pelos liberais. Porém, o que temos visto da postura dos parlamentares da sigla em Brasília e também do governador do Estado de Minas Gerais, Romeu Zema, é uma aproximação cada vez maior com os 'bolsonaristas', justamente por conta do divisionismo causado pela polarização em nosso país.
Governador de Minas Gerais Romeu Zema (NOVO) e o ex-presidente Jair Bolsonaro
Foto: Alan Santos / PR
E em Alagoinhas, por mais que o Novo tenha crescido no número de filiados e esteja pontuando em 3º lugar nas pesquisas, ainda está muito distante daquilo que poderia ter alcançado caso tivesse uma anuência mais forte dos grupos contrários ao PT, além daqueles que buscam uma ruptura mais profunda na concepção política alagoinhense. No entanto, dois desafios têm dificultado um crescimento mais robusto de Sanson: a polarização aliada ao voto útil e a xenofobia estrutural presente na mentalidade de cidadãos alagoinhenses. Mas isso é tema para uma próxima coluna.
Além disso, não podemos esquecer que houve até um breve diálogo entre os grupos do Novo e do PL em Alagoinhas, com o intuito de construir um projeto juntos. Porém, segundo fontes ligadas ao Portal Pereira News, “vaidades” e “projetos pessoais” impediram a construção desse projeto conjunto, que, sem sombra de dúvidas, daria mais capilaridade e força a ambos. Mas qual dos dois teria a humildade de ceder a cabeça da chapa?
Leandro Sanson (NOVO) e Pastor Lins (PL)
Foto: Divulgação / Portal News Infoco
Ednaldo Sacramento (PSTU) e Catarino Pinto (PSOL), por representarem o espectro da esquerda/extrema-esquerda, evidentemente não conseguirão nenhuma fatia do bolo “verde e amarelo”.
Foto: Pinterest
Colocando os pingos nos ‘is’
A síntese que podemos atingir, após a compreensão das minúcias e idiossincrasias onipresentes na política de Alagoinhas em relação ao destino do escore eleitoral de Bolsonaro, é que a falta de uma representação orgânica do movimento de direita, de uma figura que simbolize e reúna as credenciais e predicados reivindicados pelo grupo, faz com que ocorra uma pulverização dos simpatizantes. Muitas vezes, os interesses pessoais prevalecem em detrimento dos interesses coletivos e ideológicos.
Enquanto a eleição presidencial é algo distante da nossa realidade e de ter seus respectivos interesses atendidos, a eleição municipal tende a ser um terreno mais fértil para quem conduz a política dessa maneira.
Outro problema rotineiro, que desune o “lado direito”, é o desejo e a ambição de alguns personagens de se colocarem apoteoticamente como o grande líder conservador do município, sem antes conquistar o apreço popular. Quantos anos duraram para que o próprio ex-presidente se tornasse um fenômeno ao vencer uma eleição na qual muitos não acreditavam?
Enquanto as vaidades, orgulhos e egos estiverem enraizados na psique dos que se autointitulam “representantes da direita” em Alagoinhas, continuarão batendo cabeça em um labirinto em espiral. Enquanto isso, coalizões de centro e centro-esquerda continuarão imperando em nosso município, potencializadas pelos governos estaduais do PT, e os mesmos grupos que conduzem a cidade há anos seguirão se perpetuando.
Espero que você, que teve a paciência, o interesse e a coragem de ler até aqui, tenha adquirido algum conhecimento relacionado ao contexto político desta querida cidade. E, mesmo que tenha discordado de algo, o importante é que esta produção tenha estimulado sua reflexão. A democracia permite a diversidade de linhas de pensamento, e é para isso que o Portal Pereira News está à disposição: fomentar uma imprensa livre que estimule a boa discussão sadia.
Espero que você saia daqui melhor do que entrou, e nos reencontraremos em uma próxima oportunidade.
Por: Ícaro Pereira - Editor do Portal Pereira News
Não existe bolsonarista em Alagoinhas, apenas antipetistas, no máximo
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