O colunista do Portal Pereira News nos leva a aprofundar nossos pensamentos e reflexões sobre a cultura em nossa sociedade
O sistema, como concepção epistemológica, sobretudo quanto à filosofia, é algo superado, que ficou incogitável após Hegel. Mas eu acredito que as formas hegemônicas de poder operam de forma sistemática, por isso a frase de Tropa de Elite existe, como ecoa: “O sistema é foda”! Isso explica porque a cultura (e a academia) apoiou a eleição de uma pessoa envolvida até o pescoço com a corrupção. Achei estranho que os artistas que passam dificuldade seguiram os artistas medalhões que mais lucraram com os governos de esquerda. Compreendo que, do outro lado, havia um representante do conservadorismo repressor em termos comportamentais por motivos religiosos.
Outro agravante do posicionamento dos conservadores e dos liberais em termos econômicos é o fato de enxergarem a cultura como um mero produto de mercado e de considerarem a arte clássica e as manifestações populares/folclóricas como as únicas merecedoras de serem apoiadas pelo Estado. Os artistas estavam entre a cruz e a espada, admito, escolheram a espada, digamos, quando a saída seria o nulo. Mas e agora? Depois da Lei Paulo Gustavo, que realmente beneficiou os menores, tudo voltou a ser como antes. Só que agora com um orçamento 'hiperrecheado'. Antes, um porém sobre a Paulo Gustavo: era voltada majoritariamente para projetos audiovisuais, que, pela complexidade de reunir equipe, beneficiou poucos e os que já tinham alguma experiência no ramo. E os iniciantes?
Parece bobeira falar sobre os iniciantes, mas isso remete à questão da formação cultural relegada ao quinto plano dos infernos, há décadas, dando-se ênfase a eventos. Termina-se elitizando a arte, pois tende a prestigiar quem teve recurso para bancar sua formação ou quem pode custear uma faculdade de artes, que praticamente só existem nas capitais, pelo menos no Norte-Nordeste/Centro-Oeste. É impressionante como o “sistema”, a confraria dos que estão no poder, não quer o povão mexendo com arte. A arte popular de hoje, que até predomina, é um sequestro do que faz o povo, pois sempre pinça seus expoentes para a classe média – a burguesia fede, e a pequena burguesia, ainda mais.
Por isso vemos o grafite, o rap e o funk na televisão, mas o povão sequer tem dinheiro para escutar sua própria música, que dirá fazê-la. Os artistas de rap que não passam pelo funil da fama vivem marginalizados. Os políticos pagam para os famosos se apresentarem para as massas, não pela cultura, mas pelos votos. Em Alagoinhas, há bons projetos como a Virada Cultural, o Rota Alternativa e o São João Alternativo, promovidos pela Prefeitura em uma dobradinha Carlinhos Zambé e Iraci Gama. Mas a formação artística é cara e não traz a mesma quantidade de votos; contudo, ela é a única forma de democratizar a cultura verdadeiramente. Formação de verdade, desde os anos iniciais, não essas oficinas que aparecem como raros apêndices em editais ligados a eventos.
Alagoinhas não está pior em termos culturais, graças ao esforço e dedicação de Iraci Gama, com o auxílio de seu diretor Edson Carneiro. Mas as verbas são insuficientes e precisam ser divididas com o esporte. A criação da secretaria de esportes é para ontem. A presença de Iraci é justa e necessária, ninguém tem a sua competência. No entanto, ela, inserida no sistema, é uma voz a menos no contrassistema, na crítica. Como vereadora, neste sentido, ela foi essa voz, mas “o sistema é foda” ou “o homem que virou suco”.
Falam tanto em primeiro emprego, em jovem aprendiz… mas quanto às artes, silêncio. Por quê?
Vamos enfatizar o apoio ao artista iniciante e à formação artística, que haja verbas específicas no orçamento para estes. E assim democratizar a cultura. Isso é melhor do que ficar sonhando com um socialismo democrático que nunca virá. Pelas artes, pelo cultivo do espírito, chegaremos ao anarquismo, sem conflito com o capitalismo, sem guerras revolucionárias, sequer as culturais, pelo desdobramento natural das coisas. Não se sabe quando, mas tem que se focar nisso e começar hoje.
Por Paulo Dias - Colunista no Portal Pereira News