Presidente participa na Suíça de evento sobre Justiça
Social
O presidente Luiz
Inácio Lula da Silva afirmou, nesta quinta-feira (13), que o bem-estar da
população está ligado aos compromissos de preservação do meio ambiente e
defendeu a relação entre capital e trabalho para minimizar as desigualdades
sociais. Lula discursou na sessão de encerramento do fórum inaugural da
Coalizão Global para a Justiça Social no âmbito da 112ª Conferência da
Organização Internacional do Trabalho (OIT), em Genebra, na Suíça.
Ao listar diversos
problemas que precisam ser enfrentados para melhorar a qualidade do trabalho no
mundo, o brasileiro afirmou que a OIT é ainda mais relevante diante dos
desafios que existem hoje. O fórum é iniciativa do diretor-geral da OIT,
Gilbert Houngbo, ao lado de quem Lula exercerá a co-presidência da coalizão.
“Não há democracia
com fome, nem desenvolvimento com pobreza, nem justiça na desigualdade. Por
isso, aceitei o convite do diretor-geral Gilbert para co-presidir a Coalizão
Global para a Justiça Social. Ela será instrumental para implementar a Agenda
2030 para o Desenvolvimento Sustentável. O ODS 8 [Objetivo de Desenvolvimento
Sustentável 8] sobre Trabalho Decente para Todos não está avançando na
velocidade e na escala necessárias para o cumprimento de seus indicadores”,
disse Lula, lembrando que “a informalidade, a precarização e a pobreza são
persistentes”.
Empregos informais
“O número de
pessoas em empregos informais saltou de aproximadamente 1,7 bilhão, em 2005,
para 2 bilhões neste ano. A renda do trabalho segue em queda para os menos
escolarizados. As novas gerações não encontram espaço no mercado. Muitos não
estudam, nem trabalham e há elevado desalento. Quase 215 milhões, mais do que a
população do Brasil, vivem em extrema pobreza, mesmo estando empregados. As
desigualdades de gênero, raça, orientação sexual e origem geográfica são
agravantes desse cenário”, destacou.
Para Lula, a
relação entre capital e trabalho é importante para minimizar as desigualdades
sociais. “Recuperar o papel do Estado como planejador do desenvolvimento é uma
tarefa urgente. A mão invisível do mercado só agrava desigualdades. O
crescimento da produtividade não tem sido acompanhado pelo aumento dos
salários, gerando insatisfação e muita polarização. Não se pode discutir
economia e finanças sem discutir emprego e renda. Precisamos de uma nova
globalização, uma globalização de face humana”, disse.
O presidente
defendeu a taxação dos super-ricos e lembrou que a justiça social e a luta
contra as desigualdades são prioridades da presidência do Brasil no G20, grupo
das 20 maiores economias do mundo. “Estamos discutindo como promover uma
transição justa e utilizar as tecnologias emergentes para melhorar o universo
laboral. Nossa iniciativa prioritária, a Aliança Global contra a Fome e a
Pobreza, busca acelerar os esforços para eliminar essas chagas. O Brasil está
impulsionando a proposta de taxação dos super-ricos nos debates do G20”,
afirmou.
“Nunca antes o
mundo teve tantos bilionários. Estamos falando de 3 mil pessoas que detêm quase
US$ 15 trilhões em patrimônio. Isso representa a soma das riquezas do Japão, da
Alemanha, da Índia e do Reino Unido. É mais do que se estima ser necessário
para os países em desenvolvimento lidarem com a mudança climática. A
concentração de renda é tão absurda que alguns indivíduos possuem seus próprios
programas espaciais. Não precisamos buscar soluções em Marte. É a Terra que
precisa do nosso cuidado”, acrescentou o presidente, em referência ao
bilionário Elon Musk, dono da empresa de exploração espacial Space X.
Transição
ecológica e digital
Lula ainda lembrou
que o bem-estar dos cidadãos está diretamente ligado ao compromisso, “que deve
ser de todos”, com a preservação do meio ambiente. Para o presidente, o
enfrentamento das mudanças climáticas deve ter o foco na transição energética
na promoção do desenvolvimento sustentável em suas dimensões econômica, social
e ambiental.
“As florestas
tropicais não são santuários para o deleite da elite global, tampouco podem ser
tratadas como depósitos de riquezas a serem exportadas. Debaixo de cada árvore
vivem trabalhadoras e trabalhadores que precisam de emprego e renda. A
sociobioeconomia, a industrialização verde e as energias renováveis são grandes
oportunidades para ampliar o bem-estar coletivo e efetivar a transição justa
que defendemos”, disse Lula, destacando ainda que a transição ecológica deve
ser pensada junto com a transição digital.
“Ações e políticas
voltadas para o desenvolvimento de habilidades digitais e sustentáveis serão
fundamentais em uma economia global cada vez mais descarbonizada e intensiva em
tecnologia [...]. A inteligência artificial transformará radicalmente nosso
modo de vida. Teremos que atuar para que seus benefícios cheguem a todos e não
apenas aos mesmos países que sempre ficam com a parte melhor. Do contrário,
tenderá a reforçar vieses e hierarquias geopolíticas, culturais, sociais e de
gênero”, afirmou.
Por fim, o
presidente destacou a importância do lançamento da coalizão e voltou a defender
a participação mais igualitária dos países em desenvolvimento nos organismos de
governança global.
“A coalizão que
estamos lançando hoje será uma ferramenta central para construir uma transição
com justiça social, trabalho decente e igualdade. Isso será particularmente
importante neste contexto de transição para uma ordem multipolar, que exigirá
mudanças profundas nas instituições. Por isso o Brasil vai trabalhar pela
ratificação da Emenda de 1986 à Constituição da OIT, que propõe eliminar os
assentos permanentes dos países mais industrializados no conselho da
organização”, disse.
“Não faz sentido
apelar aos países em desenvolvimento para que contribuam para a resolução das
crises que o mundo enfrenta hoje sem que estejam adequadamente representados nos
principais órgãos de governança global. Nossas decisões só terão legitimidade e
eficácia se tomadas e implementadas democraticamente”, acrescentou o
presidente.
Coalizão Global
Lançada no ano
passado, a Coalizão Global pela Justiça Social já conta com mais de 250
membros, incluindo governos, organizações de trabalhadores e empregadores,
organizações multilaterais e nacionais e instituições financeiras, organizações
acadêmicas e organizações não governamentais internacionais.
A Conferência
Internacional do Trabalho é a reunião anual dos 187 Estados-membros da OIT e,
neste ano, ocorre de 3 a 14 de junho.
A delegação brasileira conta com integrantes do Executivo, Legislativo e
Judiciário, além de representantes da sociedade civil e de sindicatos ligados a
trabalhadores e a empresas. O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, juntou-se a
eles na segunda-feira (10).
Foto: Ricardo Stuckert / PR
Por: Andreia Verdélio / Agência Brasil