Dores do Oito de Janeiro - Por Ygor Coelho

Entre a história e a injustiça: Reflexões sobre um Brasil desnorteado

Cheguei à maturidade, olho para trás e vejo que vivi e sobrevivi a crises e momentos difíceis no meu país. Mas, ao comparar com o momento atual, me asseguro de que não vivi período tão confuso, incerto e injusto.

Sim, sobrevivi ao regime militar, tive uma vida universitária intensa, fiz parte de siglas que os mais jovens nem saberão o significado, como DCE, UNE, J.U. Católica, AP.

Na minha caminhada, não me lembro de sentir o meu país tão desnorteado como atualmente.

Minha intenção não é discutir política, nem polemizar, mas falar de humanidade, PERDÃO. É dizer que sangra o meu coração quando ouço sobre DÉBORA SANTOS, a jovem mãe de dois filhos menores que está detida e propensa a receber uma pena acima de dez anos de cadeia por escrever duas palavras em uma estátua durante a manifestação do dia 8 de janeiro. Ela escreveu com tinta? Não! Com batom! Que a própria chuva lavaria.

“Amigos presos, amigos fugindo assim pra nunca mais…” Essa música, que marcou época e traduz uma história conhecida dos brasileiros, agora se repete.

A sociedade vive incomodada e, ontem, uma faixa estendida em um ponto estratégico de Salvador repetia outra frase emblemática de anos passados: “O último a sair desligue a luz do aeroporto.”

São muitos brasileiros que desistem da sua terra, dentre eles alguns amigos e parentes espalhados pela Europa, Ásia e Estados Unidos.

Confesso-lhes: fosse jovem, pensaria no assunto. Mas, enquanto não decido também deixar a pátria amada, repito Bob Marley para os filhinhos de Débora:

“Não, bebê, não chore mais
Eu sei a barra de viver,
Mas, se Deus quiser,
Everything’s going to be alright
Everything’s going to be alright
Tudo ficará bem
Tudo ficará bem…”

Pode demorar, mas ficará bem! Não há mal que dure para sempre! (Eclesiastes 3:1)

Ygor Coelho é cronista, agrônomo e pesquisador aposentado da EMBRAPA.

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