A Desorganização da Oposição em Alagoinhas – Por Ícaro Pereira

Com riqueza de detalhes, o editor do Portal Pereira News faz uma profunda reflexão sobre a importância de uma oposição estruturada e consistente para a democracia e o atual momento político em Alagoinhas

Ícaro Pereira

Quando se fala em nova gestão, muito se discute sobre as peças que compõem a base governista, mas pouco se diz sobre aqueles que foram escolhidos nas urnas para atuar no outro campo político: a oposição.

Uma parcela significativa da sociedade enxerga a oposição apenas como um grupo cujo principal objetivo é criticar a administração vigente, buscando desgastá-la para se posicionar como uma alternativa viável ao poder. No entanto, a oposição desempenha um papel muito mais fundamental no fortalecimento do sistema democrático. Sua atuação não é apenas legítima, mas essencial para a representação e fiscalização do governo, garantindo que os interesses da população sejam devidamente considerados.

O filósofo alemão Hegel, em sua obra Ciência da Lógica, ensinou, por meio do método dialético, que a síntese só pode ser alcançada através da antítese. Isso significa que, sem a negação representada pela oposição à tese inicial, não é possível chegar a um resultado coletivo diante de conflitos opostos. A contraposição é essencial para a construção de um novo entendimento.

Afinal, o que seria da democracia se todos fossem situação e não existisse oposição?

Segundo o professor de Ciência Política da USP, José Álvaro Moisés, “A oposição deve ter condições livres e amplas para poder funcionar. Isto propõe equanimidade na forma como são tratados os procedimentos que asseguram que a oposição não vai ser fraudada, que não vai ser deixada para trás. A existência de uma oposição que vai fiscalizar, acompanhar e monitorar o que faz o governo, o Executivo, é uma condição muito importante, pois vai oferecer informações para os cidadãos sobre o que está acontecendo, com outra visão.”

Um exemplo recente de ação oposicionista que levou a uma mudança de postura do Poder Executivo foi o vídeo publicado pelo deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG). Com grande alcance, a publicação pressionou o governo a revogar a portaria da Receita Federal que tratava da suposta taxação de transferências via Pix.

Nikolas Ferreira

Independentemente da veracidade da informação disseminada pelo parlamentar, esse episódio demonstra como contrapontos podem influenciar decisões governamentais e tornar iniciativas mais alinhadas às expectativas da população — ou, pelo menos, de grande parte dela.

Trazendo essa realidade para o município de Alagoinhas, podemos compreender que a grande e inédita união suprapartidária, que “ligou as pontas da política local” — conforme dito pelo deputado federal Cláudio Cajado (PP) — e que visa à consagração da tão sonhada “Alagoinhas do futuro”, representa um passo importante, mas não garante, por si só, o sucesso da gestão.

A cidade almeja um futuro promissor e investimentos significativos, mas, para alcançar esses objetivos, é crucial que haja uma oposição ativa e responsável.

A oposição deve exercer o papel de fiscalização e apontamento de possíveis erros, especialmente em áreas que não recebem a devida atenção. Afinal, os desafios de um mandato são muitos, e é essencial garantir que todos os setores sejam contemplados.

O objetivo da oposição não é apenas criticar por criticar, mas contribuir para a construção de políticas públicas eficazes. Ao identificar falhas e sugerir melhorias, a oposição fortalece a administração e a torna mais eficiente, beneficiando toda a população alagoinhense.

Uma oposição assertiva e com diretrizes bem estabelecidas coopera para o bom funcionamento da democracia e para o desenvolvimento da cidade. Da mesma forma, uma gestão atenta e disposta a ouvir diferentes perspectivas tem mais chances de acertar e promover um futuro próspero.

Não se trata de responsabilizar a oposição pelos êxitos ou fracassos governamentais, mas de destacar que uma atuação organizada e propositiva contribui significativamente para a efetivação das políticas públicas.

Não podemos esquecer da árdua luta para consolidar a jovem democracia brasileira. Fortalecê-la em todas as áreas é essencial para garantir uma governança sólida e eficaz.

LIDERANÇAS

No cenário nacional e estadual (baiano), é indiscutível quais são as principais lideranças oposicionistas.

Nacionalmente, apesar de sua inelegibilidade, o ex-presidente Jair Bolsonaro ainda é o principal expoente da oposição ao governo Lula. Mesmo que não recupere seus direitos eleitorais, sem dúvida será um cabo eleitoral preponderante e influente para o candidato apoiado pelos conservadores.

Já na esfera estadual, ACM Neto representa a oposição à gestão de Jerônimo Rodrigues. Embora ainda não tenha confirmado publicamente sua candidatura ao governo da Bahia em 2026, suas movimentações políticas, sua atuação nas redes sociais e o desgaste do PT no estado indicam que ele chegará ao próximo pleito com chances reais.

No âmbito municipal de Alagoinhas, o cenário é diferente. Afinal, quem hoje é reconhecido(a) como a principal figura antagonista ao atual governo de Gustavo Carmo?

Diante da expressiva votação nas eleições de 2024, é natural que o nome do ex-prefeito Paulo Cézar venha à mente. No entanto, antes de chegarmos a essa conclusão, é necessário analisar algumas nuances do tabuleiro político alagoinhense para obter uma visão mais precisa e evitar precipitações.

Na sequência, aprofundaremos essa discussão.

AS OPOSIÇÕES

Ao analisarmos a oposição em Alagoinhas hoje, é necessário empregar o termo no plural: “as oposições”. Mas por quê?

No pleito eleitoral do ano passado, cinco candidaturas à prefeitura foram derrotadas, mas, juntas, representam uma parcela considerável da população que não se sentiu representada pela chapa vencedora. Embora compartilhem esse ponto em comum, essas candidaturas possuem visões, conceitos e formas de conduzir a política completamente diferentes.

Para facilitar o entendimento da atual realidade política da cidade, iremos segmentá-las de acordo com os diferentes grupos que estão fora do governo. Dessa forma, poderemos separar o joio do trigo e formar, cada um de nós, a nossa própria opinião.

PAULO CÉZAR E O GRUPO CARLISTA

Carinhosamente apelidado de “O Original” por seus apoiadores, o ex-prefeito Paulo Cézar (União Brasil) foi considerado por muitos um guerreiro na corrida eleitoral de 2024. Mesmo enfrentando 14 vereadores de mandato, a Prefeitura, o Governo do Estado, o Governo Federal, três senadores, oito deputados federais, dois estaduais, além dos desgastes relacionados aos seus problemas judiciais, PC conseguiu obter 44,92% dos votos válidos, apenas 4.308 votos a menos que o vitorioso Gustavo Carmo.

Mas o que mais desanima o futuro pós-eleição de Paulo, enquanto possível grande líder oposicionista do município e suas futuras objeções eleitorais, não são esses números em si, mas sim as questões inerentes ao seu recente histórico político.

Prestes a completar 68 anos de idade no próximo dia 9 de março, PC tem colecionado derrotas importantes em seu currículo. Não conseguiu eleger sua candidata, Sônia Fontes, como sucessora em 2016, algo que se arrepende até hoje pela escolha. Perdeu em 2018 a eleição para deputado estadual, cargo que já havia ocupado em duas oportunidades. Em 2020, sofreu uma derrota municipal numa disputa bastante acirrada contra o então prefeito Joaquim Neto em sua reeleição.

Paulo Cézar e Sônia Fontes em 2016

Em 2022, perdeu novamente o cargo para Assembleia Legislativa e, dois anos depois, registrou mais uma derrota em sua terra.

Sei muito bem que a política não é feita somente de vitórias. Lula, por exemplo, precisou perder três vezes antes de alcançar o êxito presidencial em 2002. Zé Neto tentou cinco vezes a Prefeitura de Feira de Santana e ainda não foi chancelado pela população. João Henrique Carneiro, apesar de ter sido prefeito de Salvador duas vezes, não consegue mais sequer se eleger como vereador. A política tem dessas.

Para muitos, Paulo Cézar Simões precisa continuar sendo o eterno candidato, com a esperança de que sua vez novamente chegará. Talvez esse seja também o desejo daqueles que se acostumaram a vencê-lo constantemente. Outros defendem a ideia de que outro nome precisa ser trabalhado para ocupar essa posição de liderança do grupo, o que, sem dúvida, não é uma tarefa simples.

As próprias condutas de PC após a eleição de 24 não têm colaborado para seu reconhecimento popular atual como ícone máximo da oposição local. A cena em que Paulo foi flagrado com o atual gestor “comendo água” em um boteco não caiu bem dentro do seu diluído grupo político.

De acordo com fontes ligadas ao Portal Pereira News, o ex-vice-prefeito Roberto Torres, que compôs chapa com Cézar, já está rompido, assim como o ex-vereador Ozeas Menezes, que divergiu de algumas das atitudes do “bacana” ainda durante o final da campanha.

Conforme o advogado e radialista Caio Pimenta, Paulo já ensaiou uma movimentação para ingressar no partido Avante, do ex-deputado federal Ronaldo Carletto, como forma de retornar à base estadual. Todavia, essa informação foi posteriormente negada por meio de uma nota emitida pela assessoria de imprensa de Paulo Cézar.

Gostaria de deixar claro, caro leitor, que a intenção aqui não é desvalorizar a trajetória de um agente público que conseguiu ser duas vezes vereador, duas vezes deputado estadual e duas vezes prefeito. Sua densidade eleitoral é notória, talvez a maior da cidade, considerando o potencial de votos individuais. No entanto, sua popularidade esbarra em uma rejeição igualmente expressiva, um teto difícil de romper. Abre-se, assim, espaço para reflexão: um nome novo, com menor projeção inicial, poderia, a longo prazo, capitalizar o desgaste do nome consolidado e ultrapassar essa barreira?

Pouco ativo nas redes sociais desde o final da eleição, Paulo tem participado de eventos esporádicos dentro e fora de Alagoinhas. Recentemente, marcou presença na tradicional Lavagem de Subaúma, em Entre Rios.

O silêncio de PC durante a fase de transição, o início do governo e o período de calamidade causado pelas chuvas no município tem gerado descontentamento entre seus apoiadores. Esperava-se uma postura mais altiva e proativa, com propostas e busca por soluções para os problemas, claro, dentro de suas limitações.

No entanto, segundo interlocutores, PC parece estar mais focado em lamentar sua derrota eleitoral, atribuindo-a a uma união de forças contrárias, ao invés de se dedicar à função de representante máximo da oposição. Paulo alega que perdeu porque "um exército de forças, que até então não se bicavam, se uniram para derrotar esse fenômeno popular”.

Sobre a Câmara Municipal de Alagoinhas, três nomes que o apoiaram durante o pleito farão parte desta atual legislatura e, ao mesmo tempo, são proeminentes líderes deste agrupamento político: Luciano Almeida (União Brasil), Jaldice Nunes (União Brasil) e Luma Menezes (PDT).

Luciano Almeida, que está em seu terceiro mandato como vereador, fará parte da mesa diretora da Casa neste biênio, como 2º secretário. Reeleito com expressivos mais de 2 mil votos, sendo o mais votado do seu partido, Luciano se credencia como uma liderança promissora e relevante para desafios futuros que vão além da vereança. LA talvez seja o vereador que mais investiu em esportes na história de Alagoinhas.

Já que Luciano faz parte da mesa diretora, caberá a uma das duas mulheres a responsabilidade de assumir a liderança da oposição no legislativo.

A vereadora Jaldice Nunes tem demonstrado até aqui traquejo e vocação para a política. Em seu primeiro mandato, a parlamentar deu bastante visibilidade e fomento ao empreendedorismo, sobretudo feminino, e tem sido uma importante voz representativa para as mulheres. Apesar de quase ter perdido sua reeleição para o riachense Osvaldo Tó, Jaldice chega com muito entusiasmo para este novo ciclo de quatro anos. Contudo, devido a problemas familiares, é improvável que ela assuma a liderança da oposição no Parlamento. Por eliminação, Luma Menezes deve assumir o papel, liderando o pequeno bloco de edis em meio a tantos situacionistas.

Luma dispensa comentários enquanto representação política. Ela obteve 6.045 votos em 2022 em Alagoinhas, na disputa para deputada federal, enquanto Paulo Azi, com o apoio de seis parlamentares locais, conquistou apenas 6.271.

Como líder da oposição, Luma poderá se tornar uma voz ativa para aqueles que clamam por um contraponto nas discussões da Casa, evitando que a Câmara se transforme em um mero “puxadinho” do Executivo. Apesar de a ampla maioria dominante provavelmente garantir a aprovação fácil de projetos, seu trabalho como cabeça da oposição poderá prospectá-la para voos ainda mais altos na política.

Luma Menezes se destaca pela sua habilidade em conectar-se com o público, seu posicionamento firme e sua compreensão da dinâmica das redes sociais. Ela é, sem dúvida, a parlamentar que melhor utiliza as ferramentas digitais a seu favor, atraindo um público jovem. LM personifica a juventude que busca representatividade.

Outro quadro importante que não pode ser esquecido é o presidente municipal do União Brasil em Alagoinhas, Fabrício Faro.

Candidato a vice-prefeito em 2020, Faro é lembrado até hoje como um dos melhores secretários municipais de Educação da história recente do município, sendo reconhecido por grande parte da categoria dos professores. Fabrício é considerado um nome técnico e muito querido em seu grupo. No entanto, seu afastamento dos holofotes políticos da cidade e a falta de um currículo de mandatos eletivos são, para muitos, obstáculos para sua jornada na vida pública. Não que isso seja o principal fator, a meu ver, visto que Jerônimo Rodrigues conseguiu ser governador sem nunca ter disputado uma eleição anteriormente.

É esperado que, no futuro próximo, os partidos União Brasil e PDT se reúnam para traçar planos para a oposição, já com foco nas eleições de 2026 e 2028. 
O maior sonho desse grupo é que ocorram rupturas na coalizão gustavista, com uma debandada de membros para reforçar a categoria opositora.

Apesar do susto causado pela exoneração de Rui Brito em apenas seis dias de governo, que gerou a esperança de um desalinhamento entre o prefeito Gustavo e a deputada estadual Ludmilla Fiscina, as expectativas foram frustradas após a nomeação do velho conhecido João Rabelo, que deixou claro que a relação entre ambos continua íntegra.

Ludmilla e Gustavo

Gustavo Carmo tem demonstrado bastante habilidade em equilibrar os diversos interesses que orbitam em sua volta, evitando baixas em sua base – algo que muitos não acreditavam ser possível. Alguns não davam um mês.

O nome do ex-chefe de gabinete, Raimundo Queiroz, volta e meia é lembrado como um possível reforço para esse time, devido aos registros fotográficos ao lado de PC em eventos. Mas, sua lealdade a Joaquim Neto impede um reposicionamento político em meio a perda exponencial de poder ao ficar de fora do atual governo.

Paulo Cézar com sua esposa e Queiroz na 
Lavagem de Pedrão em 19/01/2025

A falta de uma liderança opositora autêntica e incontestável, que inspire confiança e mobilize a militância, contribui para a dificuldade de aglutinação política. O grupo em questão demonstra dificuldades em acolher aqueles que, mesmo tendo apoiado a atual gestão, não foram contemplados com cargos. Resta-nos observar os desdobramentos futuros dessa situação.

LEANDRO SANSON E O PARTIDO NOVO

Subestimado e pouco conhecido por muitos, o advogado e professor Leandro Sanson conquistou a surpreendente terceira colocação na emblemática eleição de 2024, com o apoio de aliados do Partido Novo. Com 1.863 votos, correspondentes a 2,24% dos votos válidos, Sanson se destacou no cenário eleitoral. Meses antes do pleito, a principal dúvida era: quem ocuparia a terceira posição?

Para os 'analistas' políticos, o Pastor Lins, devido ao seu histórico político, à liderança de um templo religioso e ao apoio de um partido forte, o PL (Partido Liberal) de Jair Bolsonaro, tinha grandes chances de conquistar esse posto. Embora os partidos Novo e PL tenham iniciado diálogos no âmbito municipal, a incompatibilidade de interesses e divergências políticas tornaram inviável a concretização de uma aliança.

Vale destacar que o Partido Novo não teve acesso a fundo partidário, tempo de rádio nem à possibilidade de participar de debates televisivos, em decorrência da cláusula de barreira não superada nas eleições de 2022. Contudo, por meio de uma presença ativa nas ruas, nas redes sociais e de diversas entrevistas concedidas à imprensa local, Sanson se apresentou como uma alternativa para aqueles que não se viam representados pelas duas candidaturas com maior capilaridade aquisitiva.

É válido recordar que, antes de Leandro ser ratificado como candidato pelo Diretório Estadual do partido, o nome inicialmente cotado era o do empresário Domingos Pereira. Com o tempo, ficou claro que a decisão do partido foi acertada ao realizar a troca em tempo hábil.

O Partido Novo sai fortalecido das eleições municipais com um número maior de filiados. Esta foi a primeira eleição municipal disputada pelo partido em Alagoinhas, e ela traz um otimismo renovado para o grupo, que se prepara para estar ainda mais ajustado nas próximas eleições. O ano de 2026 é visto como um marco decisivo, pois superar a cláusula de barreira será fundamental para que, em 2028, o partido consiga disputar de maneira mais equilibrada.

Embora ainda seja prematuro falar em vitórias eleitorais do Novo em Alagoinhas, dada a forte presença de grupos tradicionais já enraizados no sistema, é importante destacar que a semente foi plantada. Os frutos dessa semeadura poderão ser colhidos no futuro, caso o trabalho dos novistas seja continuado.

Se continuar perseverando e não desistir de se posicionar como um outsider, o professor Sanson tem o potencial de se tornar um forte nome da oposição alagoinhense.

PASTOR LINS E O PL

O ex-vereador de Alagoinhas, Pastor Lins, foi, sem dúvida, uma das figuras mais controversas nas eleições de 2024. Uma verdadeira incógnita. 

Lins assumiu o comando da legenda no município por meio do vereador Anderson Baqueiro (PSD), em articulação com o deputado federal mais votado do PL na cidade, Capitão Alden. A aproximação entre ambos ocorreu devido ao fato de terem sido colegas de turma na Polícia Militar da Bahia (PM-BA).

Com um perfil fortemente alinhado ao bolsonarismo, o pastor foi o candidato de Bolsonaro na cidade. No entanto, sua candidatura foi apagada, sem grande adesão ou unidade entre os adeptos da extrema-direita local. Mesmo assim, o ex-vereador conseguiu conquistar 1.434 votos (1,72%), um desempenho muito abaixo dos 26.077 votos obtidos por Jair Bolsonaro em Alagoinhas no segundo turno das eleições de 2022.

O momento mais lembrado de Lins durante a campanha foi sua participação no debate da TV Subaé, afiliada da Rede Globo. No entanto, o PL não fez nenhuma intervenção significativa em relação ao candidato do governo, o que gerou especulações de que sua real intenção não fosse vencer o pleito.

Em sua única entrevista pós-eleição, concedida ao Programa Primeira Mão, Lins apontou diversos fatores para seu desempenho nas urnas, destacando a falta de recursos como um dos principais obstáculos. Além disso, ficou claro que sua intenção não é liderar a oposição à gestão municipal, mas sim “evitar o retrocesso” representado por PC, e trabalhar para tirar o PT do poder em 2026. Uma pena para os bolsonaristas locais, que ainda se veem órfãos de uma representatividade política plena.

EDNALDO SACRAMENTO E O PSTU

O professor Ednaldo Sacramento, um dos fundadores do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), é uma figura ativa e amplamente conhecida na política de Alagoinhas. Com vasta experiência eleitoral, acumulada ao longo de várias disputas, ele se destaca como um profundo conhecedor e entusiasta da política local, embora nunca tenha exercido um mandato eletivo.

Com uma concepção política considerada de extrema-esquerda, bastante distinta da visão da maioria da população, Sacramento propõe um projeto político revolucionário que questiona as estruturas do establishment, indo além do fisiologismo e pragmatismo político. Suas ideias, compreendidas por poucos, nos levam a refletir sobre as questões intrínsecas à nossa sociedade, especialmente aquelas vividas pelas minorias. Além disso, Ednaldo é frequentemente visto com desafeição por membros da “esquerda” local, como o PT e o PCdoB, que o consideram “radical” e “extremista”.

O uso das aspas no termo “esquerda” se dá pelo fato de Sacramento não reconhecer tais partidos como legítimos representantes da causa esquerdista. Para ele, existem valores inegociáveis dentro da resistência socialista/comunista que não podem ser abandonados, como, por exemplo, a supressão do sistema capitalista.

Apesar de participar de movimentos locais, emitir opiniões na imprensa local e ter um programa veiculado toda segunda-feira em seu canal do Youtube, Tabelando pela Esquerda, o professor Ednaldo ainda expressa dificuldade em aglutinar um número elevado de pessoas em seu círculo. O PSTU, não somente em Alagoinhas, ainda tem complicações para atrair um número maior de apoiadores. É evidente que o trabalho realizado nas mídias sociais não tem sido o melhor possível, embora reconheça os obstáculos financeiros atravessados pela legenda.

A forma como Ednaldo faz oposição é amplamente elogiada pela sua propositividade, pelo respeito aos adversários e pela fidelidade aos ideais que acredita, sem se render à conveniência política. No entanto, por fazer uma oposição à esquerda, em um cenário em que o PT está no governo e com grande parte da população ainda reconhecendo o Partido dos Trabalhadores como a verdadeira esquerda, ele enfrenta dificuldades em agregar apoio suficiente para ser visto como uma alternativa viável para o futuro político de Alagoinhas.

É importante registrar que Ednaldo obteve 591 votos na eleição do ano passado (0,71%), mais do que o dobro dos 209 votos que recebeu em 2020. Esse aumento de votos demonstra que as ideias do PSTU estão se espalhando, especialmente porque o PT não lançou candidatura própria, o que fez com que muitos eleitores optassem pelo PSTU por sua maior afinidade com as bandeiras históricas da esquerda.

CATARINO PINTO E O PSOL

Até hoje, muitos em Alagoinhas sequer sabem que Catarino Pinto foi candidato a prefeito pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). Sindicalista e operador de produção em uma indústria de bebidas, Catarino praticamente entrou de “paraquedas” no pleito de 2024. Ainda que já tenha tentado uma vaga como vereador em 2020, a sigla não conseguiu estabelecer uma base sólida na cidade para atrair novos adeptos.

Catarino quase não fez campanha e ainda teve que dividir seu tempo com sua vida profissional, que continuou sem interrupções. Suas ideias e projetos permanecem desconhecidos pela grande maioria da população. Durante os debates, sua postura foi considerada ingênua, e ele se mostrou desconectado da realidade do município, além de não ter participado de entrevistas, o que prejudicou sua visibilidade. No debate da TV Subaé, sua postura foi especialmente criticada por ser excessivamente tímida.

Um outro ponto a ser considerado foi o estado de saúde de Catarino nos dias que antecederam a eleição, quando ele enfrentou problemas sérios, o que fez com que praticamente abandonasse a campanha. Apesar de ser um homem humilde e trabalhador, ele não demonstrou ter condições ainda de exercer alta relevância política. Uma pena, considerando o potencial de sua trajetória de vida.

Curiosamente, o PSOL obteve 269 votos nas eleições para prefeito em 2024, exatamente o mesmo número obtido em sua primeira e única eleição para o cargo disputada até então no município, em 2016, com a candidatura de Samara Braga. Em ambos os pleitos, o partido ficou na última posição. Em uma conversa com o presidente estadual do PSOL, Ronaldo Mansur, que também tem raízes em Alagoinhas, ele reconheceu que faltou maior empenho do grupo para as eleições no município.

Era esperada uma votação maior em 24, principalmente porque o PT não lançou uma candidatura própria. Em Salvador, por exemplo, o PSOL conseguiu, com Kleber Rosa, ficar na segunda colocação, à frente do vice-governador Geraldo Júnior, que contou com o apoio da máquina estadual.

CONCLUSÃO

Como puderam perceber, são diversos os grupos políticos em Alagoinhas, cada um com suas particularidades. Parabéns a você que conseguiu chegar até aqui. Infelizmente, o hábito da leitura tem sido cada vez menos comum nos dias de hoje.

Espero que este texto tenha ajudado a esclarecer um pouco sobre o cenário da oposição em nossa cidade. Que você, leitor do Portal Pereira News, consiga tirar suas próprias conclusões. 

Quem você acredita que tem mais potencial para organizar e liderar a oposição em Alagoinhas? 

Em breve, estarei de volta para trazer mais informações sobre os bastidores da política alagoinhense.



Ícaro Pereira é radialista, repórter, produtor jornalístico e editor-chefe do Portal Pereira News.

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem

RECENTES