PREFEITOS QUE MAIS IMPACTARAM ALAGOINHAS - Por Geraldo Almeida

Essa análise reflete a visão de alguém que chegou a Alagoinhas há cinquenta anos e vivenciou a atuação dos diversos políticos que assumiram o Paço Municipal desde o ano de 1974

Foto: Divulgação / WEB

JUDÉLIO CARMO

Quando cheguei a Alagoinhas, ainda pairava no ar o rescaldo do incêndio que foi o assassinato político de um vereador, anos atrás. Judélio Carmo governava a cidade, e fiquei impressionado, no primeiro contato que tive com ele, por sua simpatia, bom humor, eloquência e espírito de colaboração quando, em nome da EBDA (na época ANCARBA), fomos pedir-lhe ajuda para uma determinada necessidade do órgão.

Sem ter realizado um governo com muitos feitos, deixou como legado a drenagem e o aterro de uma vasta área de brejo, no coração da cidade, permitindo a expansão do comércio e implantando ali a grande central de abastecimento. A partir disso, Alagoinhas deixou aquele ar de cidade provinciana onde a feira livre espalhava-se pela praça JJ Seabra.

JOSEILDO RAMOS

Com pouca tradição política na época, elegeu-se prefeito em 2001 pelo Partido dos Trabalhadores como o principal nome da legenda no município, surfando na onda da alta popularidade de Lula na presidência da República. Reconhecidamente inteligente e de boa oratória — embora com um tom agressivo contra seus oponentes — fez dois governos medianos, no cômputo geral, e deixou como marco positivo a profissionalização da gestão administrativa da prefeitura e do SAAE.

Causou muita polêmica a sua maior obra, o viaduto da rua do Catu, até hoje questionado quanto à sua utilidade, tendo consumido uma verba vultosa que poderia beneficiar mais a população se aplicada em melhorias de bairros populares.

Tentou inovar a gestão adotando um programa denominado Orçamento Participativo, realizando reuniões nos principais bairros para ouvir propostas da população, mas ficou como OP “para inglês ver”, porque pouca coisa era aproveitada nas execuções orçamentárias. Mostrou grande competência política para se firmar como deputado federal, expandindo as suas bases políticas para diversos municípios do estado, o que o fez tirar o foco de Alagoinhas, onde vem diminuindo sua influência e votos.

PAULO CÉZAR

De azarão na política, passou a ser o político com maior prestígio junto à população pobre alagoinhense, pelo seu estilo populista e bom recall de seus mandatos. Lembro que, quando era vereador e lançou-se pela primeira vez como candidato a deputado estadual, houve total ceticismo da classe política e de outros segmentos da sociedade, considerando talvez que lhe faltavam base política, recursos financeiros e conhecimentos para alçar voo à Assembleia Legislativa. Mas Paulo é resiliente e sempre acreditou em si mesmo, o que lhe fez lograr vitórias em todas as eleições que disputou: duas vezes vereador, duas vezes deputado estadual e duas vezes prefeito.

O município vinha numa trajetória morna de desenvolvimento, e o ponto de inflexão positiva foi o primeiro mandato de PC, com grandes intervenções urbanísticas como a construção da avenida Joseph Wagner, o binário que alargou as duas vias laterais da praça Rui Barbosa, etc. Ao longo dos seus oito anos de mandato, Alagoinhas viveu um boom imobiliário, de negócios e de empregabilidade como nunca se viu antes. A chegada de grandes indústrias de bebidas, fábrica de embalagens, grandes cerâmicas e a instalação de novas faculdades foram reflexos do bom momento da economia brasileira e de um competente trabalho de atração de investimentos da prefeitura.

Ao findar o seu segundo mandato, Paulo Cézar ostentava grande popularidade e poderia tranquilamente eleger o seu sucessor. Mas o seu estilo personalista e a soberba levaram-no a desprezar os alertas que tradicionais aliados fizeram quanto ao risco de derrota com sua insistência no nome de Sônia Fontes, secretária de infraestrutura, como candidata à sua sucessão. Ele não recuou e, assim, entregou de bandeja a prefeitura a Joaquim Neto.

Cometeu um grave erro pelo qual paga até hoje, pois, na sequência, perdeu uma eleição para deputado e a última para prefeito.

MURILO CAVALCANTE

Entrou nesse rol apenas pelo conjunto da obra, pois no seu último dos três mandatos de prefeito nada ocorreu digno de destaque. Entretanto, Murilo é um ícone da política baiana, e sua destacada atuação como deputado estadual elevou o nome da política alagoinhense.

Paulista de nascimento e filho do médico que foi prefeito de Esplanada e deputado estadual, Ladislau Cavalcante, influente político junto ao ex-governador Antônio Balbino, Murilo teve o seu primeiro emprego como oficial de gabinete do governador.

Tendo se formado em Direito, exerceu a advocacia defendendo causas ligadas aos ferroviários de Alagoinhas, o que lhe trouxe dividendos políticos, até mesmo porque ele era um orador magnífico. Mais tarde, aproximou-se do governador ACM e foi presidente da ALBA no biênio 1981-1983, tendo assumido o governo em duas oportunidades, interinamente.

JOAQUIM NETO

É um político de muita sorte. Egresso da política de Sátiro Dias, lançou-se candidato a prefeito sem nenhuma base política e cresceu valendo-se da profissão de médico, visitando comunidades carentes e distribuindo receitas.

A sua primeira sorte foi a teimosia de Paulo Cézar em manter Sônia Fontes como candidata, quando era voz geral que outro candidato derrotaria Joaquim.

O seu governo foi marcado por outros lances de sorte: a facilidade com que conseguiu levantar recursos, por empréstimos, apoiado por uma câmara de vereadores sempre servil, além da surpreendente aliança com o PT, cujo governador Jerônimo abraçou o prefeito e esteve sempre com o erário estadual aberto para obras no município. Essa parceria culminou com uma união eleitoral para derrotar Paulo Cézar, um adversário muito difícil, o que ocorreu.

No seu mandato, podemos destacar as obras do projeto da CAF, deixado pronto pelo governo de PC, incluindo a macrodrenagem e o asfaltamento de diversas ruas da cidade. São recorrentes as críticas quanto à qualidade das obras efetuadas em seu mandato e o fato de que, em sua gestão de oito anos, não foram solucionados, em definitivo, os alagamentos do bairro Silva Jardim.

Joaquim é, dentre todos os prefeitos que passaram por Alagoinhas, a figura mais controversa, não carismática, sempre olhando em primeiro lugar os seus interesses e não pestanejando em se desfazer de velhos aliados se isso lhe trouxer dividendos.

Não foi à toa que Gustavo Carmo montou o seu secretariado sem dar espaço ao ex-prefeito.

Foto: Divulgação / Redes Sociais







O autor é engenheiro agrônomo e ex-vice-prefeito de Alagoinhas.

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