Sexualidade e etnicidade no centro das eleições dos EUA - Por Paulo Dias

Confira a coluna desta semana:

Foto: Divulgação / Redes Sociais

Quando sair este artigo, é possível que já se saiba quem é o novo presidente dos EUA; mesmo assim, ainda é válido refletir sobre alguns aspectos. É certo que, para falar em política hoje, necessita-se tocar no evento da polarização: progressistas X conservadores. Isso significa que a sexualidade está no âmago das discussões partidárias — bem que Freud avisou, mas no que isso implica mesmo? Na realidade, existe a Agenda Woke e aqueles que se opõem a ela.

Claro que há também uma resistência cristã às mudanças de valores que são bem-vindas. Contudo, o wokismo se caracteriza justamente por sua forma radical de se contrapor aos dogmas religiosos, trazendo o debate para o centro da vida pública e obscurecendo questões gerais que dizem respeito à humanidade, como economia, saúde, educação, segurança pública e alimentar.

O movimento Woke é um fenômeno sexual, comportamental e também étnico, mas que tem seu viés econômico, unindo Freud e Marx, como recomenda a boa pesquisa. Ele é econômico, pois se enraíza na movimentação no interior da classe média. Com o fenômeno da classe média ascendente, houve choques com a classe média tradicional por disputa de espaço e poder. Parte da classe média tradicional se uniu à parte da classe média ascendente em torno de questões comportamentais. Os religiosos mais conservadores ficaram no outro bloco. Isso foi nítido desde sempre nos EUA e na Europa, generalizando-se com o aumento da renda mundial. Surgiram duas visões de Estado: a dos progressistas, que defendiam mais amparo social estatal, e a dos conservadores (liberais na economia), que pregavam a autorregulamentação do mercado.

A briga se tornou acirrada com o sequestro das pautas identitárias pelos socialistas, que tinham a mesma visão econômica e sobre o papel do Estado que os progressistas. O ataque aos conservadores passou a ser virulento — interessante que eles acusam os conservadores de fazerem discurso de ódio, uma inversão. A pauta identitária é justa, não há dúvida; o problema está na radicalidade e no seu sequestro pela esquerda. É óbvio também que existem, do outro lado, o machismo e a homofobia bíblicos, que precisam ser revistos.

Nos EUA, como no mundo, está em jogo tudo isso. Para o estadunidense, fica difícil perceber como a Agenda Woke desloca para a periferia a pauta de interesse e necessidades gerais, pois lá eles não têm problemas graves com saúde, educação e segurança como nos países emergentes — pobres. Mas são indiferentes, mesmo assim, à questão econômica e à definição do papel que os EUA devem exercer no mundo. São perigosamente “ingênuos”, não acreditam que a China seja uma influência a ser contida, mesmo com duas guerras acontecendo. É uma insensibilidade egocêntrica típica da classe média. Tudo isso não é gratuito: a polarização é incentivada e financiada pelos agentes do Capitalismo de Estado, que têm a China como referencial e modelo. Capturam, em todos os países, a justiça e os meios de comunicação de massa. A resistência está na internet, alvo de censura, logicamente.

Os wokistas não enxergam que suas reivindicações são apenas um diversionismo para a implantação do Capitalismo de Estado. Em contraposição a tudo isso, existe uma nova — e ao mesmo tempo muito velha — tendência se fortalecendo, que é o Anarcocapitalismo, ou seja, um passo para o anarquismo. Isso não significa bagunça ou desordem, mas um modelo baseado na cooperação. Também não é rival nem do capitalismo nem do socialismo. É apontado como solução e tem o presidente da Argentina, Javier Milei, como representante atual mais relevante. Quem for o presidente americano quando você estiver lendo este artigo, não se assuste: tudo são as dores do parto, sem querer ser apocalíptico.


Por: Paulo Dias - Jornalista e colunista do Portal Pereira News

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