Joaquim Neto candidato a Deputado Federal? - Por Ícaro Pereira

O editor do Portal Pereira News abordou as possibilidades e dificuldades que o atual prefeito de Alagoinhas enfrentará caso pleiteie uma cadeira na Câmara dos Deputados em 2026

Foto: Divulgação / Youtube

Não há como contestar que Joaquim Neto, o atual prefeito de Alagoinhas, se destaca como uma grande liderança política bem-sucedida. O médico alagoinhense acumula notáveis conquistas em sua trajetória, que justificam tais reconhecimentos, como as vitórias no Executivo de Sátiro Dias nos anos de 1996, 2000 e 2008, além de ter feito de Dr. Márcio Leão seu sucessor em 2004. JN também foi eleito e reeleito como prefeito de sua terra natal (2016 e 2020), e ainda viabilizou a eleição de sua esposa, Ludmilla Fiscina, como deputada estadual em 2022, além de seu sucessor na Prefeitura, Gustavo Carmo, em 2024. Ele se tornou o primeiro prefeito reeleito na história da cidade a garantir a continuidade de seu legado. Esses feitos solidificam a imagem do filho da professora Emília Chagas como uma figura pública de grande relevância na região.

Mas não só de triunfos vive o homem. Em 2012, Joaquim não foi eleito para seu quarto mandato como prefeito de Sátiro Dias, um revés que, segundo ele, o impulsionou a assumir a Prefeitura de Alagoinhas em 2016. Em 2014, perdeu uma disputa para deputado estadual, o que contribuiu para sua inserção política no município. A derrota de seu candidato, Geraldo Melo (PSDB), em 2018, apoiado por seu grupo, também demonstra a dinâmica das eleições e os desafios enfrentados por qualquer político.

É natural que, quando um prefeito está em seu segundo mandato, muitos se questionem sobre os próximos passos do administrador, já que a Constituição Federal não permite um terceiro mandato consecutivo. Muitos cálculos são feitos para entender de que forma a liderança pode permanecer na vida pública.

Aos 62 anos, JN alcançará, em 2024, a marca de 20 anos dedicados a mandatos eletivos. É surpreendente pensar que, após tantos anos na política, o Dr. Joaquim possa vir a ter um dia a dia comum, como o de consultas médicas ambulatoriais. A paixão pela política certamente contribui para sua permanência nesse meio, especialmente com várias personalidades públicas em seu próprio círculo familiar.

Como sua esposa, Ludmilla Fiscina, ocupa hoje o cargo de deputada estadual, é compreensível que imaginemos que o genro do ex-prefeito João Fiscina coloque seu nome à disposição para tentar uma cadeira na Câmara dos Deputados, já que dificilmente teria condições de disputar o Senado ou outros cargos majoritários.

A relação próxima de Joaquim com o senador Otto Alencar favorece suas aspirações futuras, pois o senador reconhece no prefeito uma destacada liderança regional e um importante membro do partido (PSD). A fidelidade de JN pode ser um trunfo importante para a viabilidade e concretização de seu projeto político.

Foto: Divulgação / Redes Sociais

Após 31 de dezembro de 2024, Joaquim Neto assumirá o status de ex-prefeito. Contudo, com o apoio político do senador, poderá ocupar cargos de relevância no âmbito estadual. Essa possibilidade poderá manter sua visibilidade política, trazer resolutividade para a vida das pessoas e fortalecer sua base eleitoral para futuras disputas.

Mas muitas batalhas aguardam Joaquim. A primeira delas é conseguir reverter sua reputação em Alagoinhas. Desde seu primeiro mandato, Joaquim enfrenta dificuldades em manter uma aprovação alta. Apesar de sua reeleição apertada e da vitória eleitoral de sua esposa, JN viveu quase ininterruptamente em meio a cenários de alto índice de rejeição, com suas vitórias baseadas, em grande parte, no poder econômico.

Hoje, após a conquista das eleições municipais, a gestão municipal joaquinista voltou a ser altamente criticada, não somente por setores oposicionistas, mas também por sua própria base governista.

Atraso no pagamento às empresas terceirizadas, falta constante de água em alguns bairros e povoados, escolas sem aula por diversos motivos, exonerações em massa e baixa atratividade do Bahia Beer são apenas alguns dos fatores que já deixam uma impressão ruim para o final do governo.

Se esse momento fosse eterno, Joaquim já poderia desistir de suas pretensões eleitorais futuras. Porém, como o eleitor tem uma memória limitada, a última impressão é a que fica. Assim como no futebol, não importa quantas vitórias ou títulos você conquistou, mas sim como está no presente momento. Um bom exemplo é a demissão do técnico Dorival Junior da equipe do Flamengo em 2022: mesmo tendo conquistado o título da Libertadores e da Copa do Brasil, foi demitido no final da temporada após uma sequência de resultados negativos no Brasileirão.

Ao programar a inauguração da Praça da Bíblia para o dia 31 de dezembro, último dia de seu governo, sabiamente o prefeito Joaquim Neto demonstra sensibilidade às demandas da comunidade evangélica. Essa ação, além de atender a uma antiga solicitação da classe cristã, fortalece sua imagem política e garante o apoio desse importante segmento para futuras eleições.

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COLOCANDO O PINGO NOS “IS”

É necessário atentar para alguns pontos antes de fazer qualquer projeção baseada em “achismos”.

A partir de 1º de janeiro de 2025, Joaquim não terá mais a caneta da Prefeitura de Alagoinhas, apesar de ter feito sucessor. O governo de Gustavo Carmo contará com uma base política muito mais ampla e abrangente, formada por uma super coalizão.

Não falo apenas do Partido dos Trabalhadores e do Partido Comunista do Brasil, mas também de diversas outras forças (inclusive dissidentes do grupo cezista) que se aproximaram de GC, vindas de diferentes direções.

Tão certo quanto a morte é o que dizem as pessoas próximas a GC: o novo prefeito não se curvará a ninguém e terá uma posição bastante firme e altiva em sua gestão. “Poste” e “fantoche” são termos que não fazem parte da forma como o filho de Judélio conduz a política.

A capacidade e desenvoltura de Gustavo são tão consistentes e seguras que causam receio até mesmo em alguns dos seus “aliados”, que o veem como ameaça para seus interesses e planos políticos futuros.

Pergunto a você que acompanha as nossas colunas: acredita que o prefeito Gustavo Carmo apoiará Joaquim Neto em 2026? Em caso afirmativo, crê que esse apoio será restrito ou que ele abriria sua base para votar em quem quiser?

Certamente, liberar a base para seguir o livre-arbítrio prejudicaria JN, pois favoreceria a pulverização dos votos entre diversos aliados de Gustavo.

É importante lembrar que, em 2022, Joaquim orientou todo seu grupo a apoiar sua esposa, Ludmilla, para a Assembleia Legislativa. Caso algum cargo comissionado não seguisse esse caminho, havia grandes chances de exoneração. Quem não se lembra, por exemplo, da exoneração de Jessé Bico de Pena naquele ano, que, pouco tempo depois, retornou ao quadro de pessoal?

O único que não votou em Ludmilla, pelo que me lembro, foi o vereador Djalma Santos, pois precisava ser fiel ao seu Partido Republicanos, ligado à Igreja Universal, que o orientou a votar no candidato Jurailton Santos. O restante do grupo de JN praticamente todo votou na atual deputada.

Essa mesma unidade não ocorreu para a eleição proporcional para deputado federal em 2022. Apesar de declarar apoio a Otto Filho (PSD), Joaquim liberou sua base para votar em outros candidatos, inclusive da oposição.

Joaquim Neto, Cláudio Cajado e Gustavo Carmo
Foto: Divulgação / Redes Sociais

Será muito difícil para Joaquim obter, em 2026, o apoio integral de seu sucessor, GC.

Vos questiono:

  • Gustavo, que apoiou Cláudio Cajado (PP) para deputado federal em 2022, abandonaria seu amigo?
  • O vereador Juracy, que apoiou Dal Barreto (UNIÃO) em 2022, encerraria essa parceria?
  • E Cleto da Banana, que apoiou Sérgio Brito (PSD), não continuaria com ele?

Além desses deputados, outros também entrarão em peso na cidade.

Dentro da própria base que elegeu Gustavo, há o deputado federal Joseildo Ramos (PT), que muito provavelmente tentará a reeleição e que sempre tem uma base sólida de votos no município, apesar de ter decaído nos últimos tempos. Tem também o nome do coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar (PT), que entrará na cidade com o apoio do deputado estadual Radiovaldo Costa (PT).

O ex-deputado federal Luiz Argolo (MDB) muito provavelmente tentará retornar à Câmara Federal em 2026 e sempre garante uma pontuação eleitoral expressiva em Alagoinhas. O próprio Paulo Azi (União) sempre mantém sua margem de 6 mil votos no município, mesmo quando teve seis vereadores de mandato lhe apoiando em 2022.

O vereador Djalma Santos continuará com seu apoio ao deputado Márcio Marinho (Republicanos).

Há boatos de que o vereador Thor de Ninha (PT) tentará emplacar o nome do deputado federal Valmir Assunção (PT) em Alagoinhas.

Enfim, muitos nomes entrarão em peso em Alagoinhas em 2026 e, sem uma união de forças, será uma guerra muito maior para o sonho de Joaquim Neto.

Muitos defendem o nome de Ludmilla Fiscina para federal e o de Joaquim para estadual, devido à visibilidade da deputada e sua baixa rejeição. Ludmilla tem feito um bom mandato parlamentar. Para termos uma ideia, LF hoje possui mais seguidores nas redes sociais do que o próprio JN. Mas será que Quinca abriria mão dessa vaga em Brasília?

Independentemente de quem seja o candidato ao Estado ou à Federação entre o casal, alguns entraves ocorridos em 2024 dificultarão ainda mais as tratativas e articulações.

Nas eleições municipais deste ano, Joaquim e Ludmilla apoiaram diversos candidatos na região, mas muitos deles saíram derrotados. Citarei apenas quatro:

  • Em Inhambupe, o prefeito JN foi um grande baluarte na construção da chapa Eduardo/Cabeludo para a sucessão de Nena. Entretanto, a dupla acabou sendo derrotada por Hugo/Jeovan;
Foto: Divulgação / Redes Sociais

  • Em Pedrão, o ex-secretário municipal de Administração na gestão de Joaquim Neto, Lula Prata, contou com o apoio da dupla, mas acabou perdendo a eleição para Marcílio Menezes;
  • Em Catu, o casal alagoinhense apoiou o nome do ex-prefeito Geranilson Requião, mas não foi suficiente para impedir a reeleição do atual prefeito Pequeno Sales, que teceu várias críticas a eles neste ano de 2024;
  • No município do Conde, o candidato Zironaldo (PT) acabou perdendo a eleição para Anísio Madeirol (União).

Essas situações dificultarão a construção das parcerias regionais necessárias para fortalecer uma candidatura que exige não somente o apoio do município de origem do candidato, mas também de várias outras cidades de uma macrorregião.

O próprio senador Otto já orientou Joaquim a não concorrer junto com a sua esposa, pois a chance de apenas um dos dois ser eleito é grande, como o histórico evidencia. O ideal é que apenas um fosse candidato, concentrando os esforços em um único indivíduo, seja para estadual ou federal.

Caso Joaquim e Ludmilla percebam, mais adiante, que não estão sendo valorizados e apoiados pelo prefeito GC, aumentam as chances de um deles concorrer à prefeitura de Alagoinhas em 2028.

Se não fosse o impedimento jurídico por questões conjugais, LF já poderia ser candidata a prefeita em 2024, promovendo, quem sabe, o retorno da família Fiscina ao Executivo.

Quanto a Joaquim, tanto seu histórico pessoal quanto o da cidade trazem precedentes de que um prefeito reeleito pode retornar como candidato após 4 anos afastado. Assim foi com os ex-prefeitos Paulo Cézar e Joseildo Ramos.

Daremos tempo ao tempo e, no futuro, veremos se há algum embasamento ou pertinência nas palavras ditas neste artigo.

Por Ícaro Pereira - Editor do Portal Pereira News

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