Papa Francisco gera polêmica por defesa da inter-religiosidade - Por Paulo Dias

Saindo um pouco do tema 'Eleições em Alagoinhas', nesta semana a coluna do Paulo Dias fala sobre as peripécias do pontífice

Foto: Tiziana Fabi / AFP

As eleições municipais se aproximam e roubam toda a atenção, não sobrando quase espaço para outros assuntos. Contudo, uma fala do Papa Francisco, na última sexta-feira, 13, em Singapura, na Ásia, tem grande relevância. Poderia ser encarada como algo normal se dita por qualquer mortal; no entanto, ela suscita profundas discussões teológicas. Veja o que ele afirmou:
"Uma das coisas que mais me impressionou em vós, jovens, é a capacidade de diálogo inter-religioso. Isso é muito importante, porque, se começarem a discutir, 'a minha religião é mais importante do que a vossa, a minha é verdadeira, a vossa não é verdadeira', onde é que isso nos leva? Leva-nos à discussão. Todas as religiões são um caminho para Deus."

Antes da teologia, existe uma questão lógica: como assegurar que todas as religiões tratam do mesmo Deus? Se tratassem do mesmo Deus, elas se unificariam naturalmente. Seria mais certo e prudente dizer que todas são partes de um Deus único. Mesmo assim, ainda se estaria em um campo aberto para conflitos. O "Deus Muçulmano e o Deus Cristão são o mesmo? Equivalem a Oxalá do Candomblé? E o Budismo, que não tem um Deus?" O assunto é complexo. São concepções de divindade diferentes que precisam apenas chegar ao entendimento comum do respeito recíproco; isto já seria um grande avanço. O Papa esticou a corda.

O Papa Francisco saiu daquele terreno comum de se afirmar que “todas as religiões têm igual valor e que, portanto, precisam ser respeitadas”. Seria vago, mas seria cauteloso. A assertiva de agora é superficial, não resolve nada e cria discussões teológicas infindáveis. Começa que tanto católicos quanto muçulmanos têm em suas respectivas escrituras o dogma de que são o único caminho a Deus e que seguem o único Deus verdadeiro. Tanto que os conservadores do Brasil já se levantaram quanto à fala do sumo pontífice, citando justamente trechos do evangelho.

Tudo isto gera mais confusão pelo dogma da infalibilidade papal. Francisco é um papa considerado progressista, assim como João Paulo II foi identificado como conservador e anticomunista, apontado como um dos responsáveis pelo fim da União Soviética e do Muro de Berlim, na unificação das Alemanhas. No voo de volta ao Vaticano, elogiou a China, já eximiu de culpa Lula e Dilma e teve posição ambígua sobre as bênçãos aos homossexuais que vivem em união. Disse que a bênção é individual e não pode ter conotação cerimonial, depois de muita grita dos conservadores.

A Igreja Católica precisa se adequar aos tempos atuais, segundo muitos. Retirar o pecado que recai sobre os homossexuais e a proibição das mulheres se tornarem sacerdotisas é algo assimilável por grande parte da população. Entretanto, não é menor o número daqueles que querem seguir o evangelho ao pé da letra. Esta cisão se desloca para o campo político, de modo geral, ficando a esquerda de um lado, os comunistas e, do outro, a direita, defensora do capitalismo. Este é o nó górdio dos dias atuais. Ao que tudo indica, um recuo dos conservadores resolveria a questão, deixando o campo político reservado somente para o embate sobre os dois sistemas econômicos. Se os conservadores não recuarem, um cisma está a caminho.

Já existem teologias pregando que o adultério deixe de ser pecado; já vão mexer nos 10 mandamentos. A Teologia da Libertação defende a esquerda corrupta; lá vai mais um mandamento para o ralo, ou dois, já que a corrupção mata. Querem também que os trisais sejam considerados família. Na prática, tudo isto irá enfraquecer a Igreja Católica, enquanto o Islã tem os mesmos dogmas morais, mas é tolerado, é intocável. O problema está no empecilho que a defesa da família pelos católicos representa ao avanço do comunismo. A esquerda quer matar dois coelhos com uma pedrada só, e o Papa dá uma forcinha para os comunistas como João Paulo fez com os capitalistas antes. O Papa Francisco deveria ser mais cauteloso, se manter simpático às pautas identitárias e ao diálogo inter-religioso, com sabedoria, sem arrombar a porta “revolucionariamente”.


Por: Paulo Dias - Jornalista e Colunista do Portal Pereira News

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