Na coluna desta semana, o jornalista e articulista Paulo Dias traz uma retrospectiva analítica, democrática e reflexiva dos principais fatos políticos da semana no município alagoinhense
No debate do Sinpa, na Câmara de Vereadores, realizado na sexta-feira, 20, Leandro Sanson, candidato a prefeito pelo partido Novo, resumiu bem do que se tratam as eleições em Alagoinhas: o esforço das oligarquias tradicionais, que fazem a política do atraso do toma lá, dá cá, para se manterem no poder. Com a presença de Paulo Cezar, do União Brasil, saíram as primeiras fagulhas em choque direto, no tete-a-tete com Gustavo Carmo. Acusado de praticar nepotismo, PC rebateu afirmando que fez Gustavo presidente da Câmara, e sutilmente o chamou de ingrato. PC ainda criticou os gastos exorbitantes com a imprensa local. Gustavo afirmou que, no governo de PC, essas despesas não foram menores e que os recursos destinados à comunicação são fundamentais para a transparência administrativa. Na prática, sabe-se que é uma velha estratégia de anular as críticas, amplamente usada, como é o caso da Rede Globo.
O debate do Sinpa teve como objetivo discutir a questão trabalhista do funcionalismo público, mas terminou ficando enfadonho, pois girou em torno de plano de cargos e salários, ganhos reais para a categoria, a não implantação da CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes), e benefícios como plano de saúde — o que é uma meia contradição, pois eles é que fazem o SUS —, enfim, reivindicações que se fazem há anos e em que pouco se avança. É aí que Sanson tem razão: tem que cortar gastos, a máquina é inchada e a qualidade do gasto é questionável. O candidato do Novo foi mais sindicalista do que Ednaldo Sacramento, que sempre foi tímido nas críticas à administração atual, sempre aliviando para o PT.
O ex-secretário de Fazenda, Renato Almeida, há algumas semanas, cantou a pedra: em sete anos, a Prefeitura arrecadou R$ 3,2 bi. Para onde foi esse dinheiro? Com metade desse valor, pagou-se o funcionalismo. Ednaldo Sacramento, por ser sindicalista, ligado ao Sinpa, deveria ter mostrado os números, sobretudo o gasto com cargos comissionados e as despesas com aluguel de imóveis e veículos. Outro que tem esses números é Gustavo Carmo, mas ele não os apresenta, nem vai apresentar. Carmo fez um plano de governo sem análise diagnóstica, porque isso iria expor os esqueletos dos seus padrinhos Joaquim Neto e Joseíldo Ramos. Quando ele fala do time que vai mudar a cidade, refere-se a Lula, Rui Costa, Jacques Wagner, Jerônimo e Otto Alencar. Nesta reta final, não cita nem Joaquim, nem tampouco Joseíldo, considerado por muitos o pior prefeito dos últimos 24 anos. É nessa ferida que Sanson põe o dedo, algo que Sacramento não tem coragem de fazer. E Joseíldo, que sumiu? Time ou saco de gatos? Veremos até onde vai esse amor.
O chefe do time de Gustavo Carmo esteve envolvido em três condenações por corrupção. Rui Costa é homem de confiança dele, foi presidente do Consórcio Nordeste que comprou respiradores e não os recebeu. Otto Alencar, embora Alagoinhas tenha que demonstrar gratidão pelo Hospital Materno Infantil, luta com seu partido, o PSD 55, para barrar o impeachment de Alexandre de Moraes, que está praticando arbitrariedades terríveis, alinhando o país com as piores ditaduras do planeta. Ednaldo se cala, silencia. Gustavo pinta seu time como se fosse redimir Alagoinhas. Por que não fizeram isso nos 14 anos de poder? Você acha que vão fazer agora o que não fizeram no tempo das vacas gordas? O Hospital Regional só veio porque as condições do Dantas Bião são desesperadoras, chegou-se ao fundo do poço. É assim que age o time de Gustavo.
Do outro lado, temos PC, com um histórico de condenação por corrupção e sua limitação intelectual, o que compromete a ideia de responder aos desafios dos novos tempos, a não ser que Paulo Azi (e seu time) tome a dianteira neste aspecto. O candidato deveria ser Fabrício Faro ou Renato Almeida. O candidato que reúne as melhores qualidades de fato é Gustavo Carmo, mas que se vote nele por seus predicados, e não por seu time, que inspira temor. É preciso considerar que, se vencer, terá dificuldade em governar com dois pesos nas costas: Joseíldo Ramos e Joaquim Neto. Difícil obedecer a dois senhores. As recentes pesquisas da Séculus mostram Gustavo na frente, com 44,65% contra 32,27% de PC, e 18,39% de indecisos. A eleição ainda está em aberto, e dinheiro faz milagres nesta reta final. Curiosamente, a Séculus é criticada em Feira de Santana por Zé Neto em função de sua atuação pregressa.
Sobre as propostas, juntando-se os seis planos de governo, se retira um. Mas há de se considerar que esta foi a primeira eleição em que, de fato, se discutiram ideias para a gestão. Gustavo traz como inovação a criação das secretarias de Desenvolvimento Urbano, Emprego e Renda, Manutenção, e Segurança Pública. Ele intenciona implementar o ensino profissionalizante, com parcerias com o Sesi (em implantação no município) e o Senai (com planos de implantação), prestigiando os estudantes da Educação de Jovens e Adultos. Está em tratativas para a instalação de uma empresa de call center e visa atrair unidades fabris do ramo de medicamentos.
Haverá maior participação do município em feiras e em outros eventos empresariais, e Gustavo manterá representantes do município em Brasília e São Paulo para buscar essa interação com grupos interessados em se expandir, visando a região Nordeste. Terá como pleito a duplicação da BR110, a construção de um aeroporto e o retorno do trem de passageiros com alta tecnologia. Gustavo se compromete também com a retomada do distrito industrial e com a universalização do Programa de Saúde da Família. O anel viário e a abertura de novas avenidas, ideias sugeridas por Juscélio Carmo, foram incorporadas ao seu plano de governo. Na entrevista coletiva do Sinpa, defendeu a Escola do Funcionalismo para capacitação continuada e a formação de um conselho permanente para tratar das demandas laborais.
Ednaldo Sacramento afirmou que este conselho já foi instituído por lei, mas não executado. Denunciou que a atual gestão procurou fragmentar a categoria funcional no atendimento de reivindicações, mas não se queixou dos acordos para o pagamento dos precatórios do Fundef, destinados indevidamente a professores que não estavam em sala de aula quando o débito foi formalizado. Sacramento defende a primarização dos serviços e, nos primeiros debates, atacou a privatização em favor da reestatização de setores como a coleta de lixo. Tanto ele quanto Sanson reprovaram o REDA e os estágios como formas de precarização dos empregos.
Ao contrário de Gustavo, que defende a tarifa zero no transporte coletivo, Sacramento pretende municipalizar os serviços. Criticou Gustavo por buscar capacitação no Instituto Lemann, em outro estado, um capitalista que deu golpe nas Americanas, em detrimento de uma parceria com a Uneb. Propõe a ocupação de cargos comissionados por servidores de carreira. A área de resíduos sólidos, em uma eventual gestão sua, ficará a cargo de uma cooperativa, com coleta seletiva e carroças motorizadas. Criticou, em entrevista e debate, a morosidade na implantação do sistema de esgotamento sanitário.
Leandro Sanson tem ideias arrojadas. Pretende reduzir as secretarias de 19 para 12. Nos três primeiros meses, não haverá pagamento de salário para prefeito e secretários, e, com a economia, será informatizado o setor de saúde, que contará com telemedicina e prontuário eletrônico — ponto também defendido por Gustavo Carmo. Sanson está preocupado com a arborização da cidade e a criação de parques ecológicos nos bairros. Defende um modelo semelhante ao apresentado por Ednaldo para a coleta seletiva de lixo. Pretende fomentar, em todos os níveis educacionais, programas e projetos voltados para novas tecnologias, além de criar incubadoras de empresas nesse segmento, com ações que culminarão em uma feira anual de tecnologia, trazendo centros de estudo e empresas do ramo. Dirigida por cooperativa, a Central de Abastecimento será o ponto onde se comercializarão os produtos da agricultura familiar, uma das prioridades de governo. A avenida que margeia o mercado, Lourival Batista, será reurbanizada, transformando-se em um calçadão, e o calçadão do comércio receberá uma cobertura, ambas áreas com espaço para lazer e cultura. Com os recursos da Zona Azul, será construído o novo terminal coletivo.
O pastor Lins, candidato a prefeito do PL, e Catarino Pinto, do PSOL, tiveram participação pouco destacada nos debates. Lins apresentou, como forma de combater a violência, o cuidado com dependentes químicos, trabalho que realiza junto à sua igreja. Tem propostas interessantes, como o uso de energia solar nos prédios públicos e a transformação do aterro sanitário em uma usina de geração de gás. Catarino quer a capacitação da mão de obra para assumir cargos de chefia no setor cervejeiro e foi o único a mencionar as escolas em tempo integral.
Pouco se falou em educação e nada sobre cultura. A bem da verdade, Ednaldo pretende unir as duas pastas. Como Renato Almeida advertiu, faltam números para amparar as propostas. Sem os números, correm o risco de se tornarem achismos, mas, pelo menos, pela primeira vez, elas foram minimamente debatidas. As pautas identitárias sumiram, ninguém quer perder o voto evangélico.
Por Paulo Dias - Colunista do Portal Pereira News