Tonho Rato critica critério político na ocupação de cargos no Governo de Gustavo Carmo - Por Paulo Dias

Em entrevista exclusiva ao jornalista Paulo Dias, o advogado e ativista político Antônio Barreto comentou sobre suas primeiras impressões da gestão municipal

Fotos: Reprodução

Antônio Barreto tem ido às rádios locais advertir sobre os erros e contradições do Governo de Gustavo Carmo desde a transição até os 47 primeiros dias de atuação. Barreto destaca dois desvios de rota para quem defendeu, em campanha, que iria colocar Alagoinhas rumo ao futuro. O advogado, que todos conhecem pela alcunha de Tonho Rato, alerta para a gritante adoção do critério político na composição da estrutura de comando — secretários e assessores. Questiona também a ausência de diagnóstico e de um planejamento como resultado do Governo de Transição. E se espanta com uma reforma administrativa que elevou o número de cargos comissionados de 290 para 412.

Liderança do PDT por anos, meio que afastado da militância, Tonho Rato adverte que o processo de transição terá que, no mínimo, produzir um relatório técnico da situação financeira do município a ser entregue até março ao Tribunal de Contas do Estado. Neste documento, saberemos quanto de débito foi deixado. Tanto Tonho quanto o vereador de oposição Luciano Almeida falam em uma suposta dívida contraída pelo SAAE em torno de R$ 30 milhões, sendo R$ 8,8 milhões correspondentes a gastos com energia.

“Alagoinhas pode ter um longo passado pela frente”, a depender da feitura deste documento, segundo Tonho Rato. Se Gustavo aceitar qualquer subterfúgio para esconder o suposto rombo, haverá uma sinalização de que as velhas práticas vindas de Paulo Cézar e Joaquim Neto tenderão a se perpetuar, diz o militante da centro-esquerda trabalhista.

Ainda como voz solitária, ele denuncia a falta de transparência na realização de um contrato emergencial para terceirização de funcionários, no valor de R$ 18 milhões, com uma empresa ligada ao escândalo de desvio de recursos na educação no governo de PC. Esse mesmo grupo já visa participar de licitações no SAAE, o que será um teste de fogo para o considerado competente diretor Renavan Sobrinho. Tonho acredita que nem Renavan nem Antônio Virgínio, secretário de Saúde, permanecerão por muito tempo no governo se predominarem as velhas práticas. Virgínio aceitará distribuir as guias de atendimento entre os vereadores? Em programa de rádio, já deixou um recado: disse que a cobertura do PSF é de 50% e não 98%, como se alardeia.

Escalação ruim de secretários e técnicos

O critério técnico foi deixado de lado para beneficiar o político, afirma Tonho Rato, em relação à nomeação de profissionais para a estrutura administrativa. Se há uma urgência por inovação tecnológica, poderia se pensar em um nome, de fora que fosse, para ocupar a vaga preenchida por Rita Bastos como secretária de Educação. Uma excelente técnica, segundo Tonho, mas que não vai muito além do operacional. Sua passagem pela Direc (atual NTE 18) não trouxe nada de novo em termos de gestão, talvez por culpa do secretário estadual da área, afirma.

O mesmo pode-se dizer de Djalma Santos como secretário de Desenvolvimento Rural. Na Central de Abastecimento, mais um equívoco: ficou a cargo de Jurandir, meu líder. Como em outras áreas, ambos vão precisar de uma muleta, que é o servidor municipal André Freire, produtor da área de pecuária, mas o setor pedia um técnico com um currículo mais amplo e mais robusto. Tonho considera que esse seja o governo da muleta e da improvisação. Lotou-se Jenser e Pedro Marcelino na Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Emprego. Pedro seria de grande serventia na Cultura e Jenser na Manutenção, segundo ele.

Outro excelente técnico deslocado de função é Alexandre Humildes, como diretor administrativo do SAAE. Para Tonho, ele deveria estar servindo ou ao Gabinete ou à Comunicação. Pedro Sobral já foi secretário de Infraestrutura de Joseíldo e hoje está na controversa SMT, com Josemar Dias, que teve vários atritos com funcionários quando dirigia o órgão. Como diretor de Mobilidade, a mesmice parece que vai imperar naquele espaço.

O caso de Tárcio Mota é o mais gritante: assume a Superintendência de Participação Popular, chamada por Tonho de “Supapo”. O primeiro problema é que se cria um órgão sem orçamento e se coloca uma pessoa na chefia apenas para acomodar interesses políticos — dar emprego para o companheiro. Segundo, o vice-prefeito é especialista no assunto. Colocá-lo na pasta obedece ao princípio da economicidade: fazer mais pelo menor custo.

Existem setores com problemas graves, que necessitariam do melhor técnico para conduzi-los. Renavan Sobrinho é essa pessoa para o SAAE, mas vai contar com o inexperiente Alexandre Humildes de um lado e, na diretoria financeira, com o ex-gestor que produziu o suposto rombo calamitoso na gestão de Joaquim, avalia Barreto. Por que não se deu liberdade para Renavan trazer seu pessoal de confiança? É a pergunta que fica. O SAAE passou de menos de 100 funcionários terceirizados para quase 300 no governo anterior.

Na Central de Abastecimento, comercializa-se de drogas a CPF. Os atacadistas dominam o centro comercial, incluindo a venda de banana e de farinha, com ligação com o legislativo. Deu para entender, né? Prédios comerciais são alugados, algo proibido por lei municipal. A Vigilância Sanitária ali não é tão rigorosa quanto no restante do comércio. Não existe Zona Azul nos arredores, mas o estacionamento é tomado pelos negociantes, sobrando poucas vagas para os compradores. O Rapa, nas imediações, pega leve com os vendedores de banana.

Na REURB, de acordo com Tonho, existem também problemas. A equipe é toda política, comandada pelo secretário municipal de Governo, Anderson Baqueiro, que já teve grande influência na SMTT. Este tem ainda condições de ser o próximo presidente da Câmara de Vereadores. Qual o projeto com esse que é considerado bolsonarista? Existe pouca fé na reeleição de Lula? Questiona Tonho.

Considerando essa mudança de rumos, Tonho Rato vê uma aproximação futura de Gustavo com Paulo Azi, especialmente se Jerônimo naufragar junto com Lula e ACM Neto for o próximo governador. Como Gustavo sai do Governo de Transição sem projetos claros, Tonho imagina que a gestão vai fazer o básico bem feito e apostar em emendas parlamentares, que serão definidas no escritório em Lucaia, bairro de Salvador, onde se localiza uma grande empreiteira com trânsito entre os petistas. Talvez da Lucaia saia a empresa que vai cuidar dos resíduos sólidos — lixo.

Outro assunto no qual Tonho Rato coloca reticências é relativo às candidaturas de Ludmilla Fiscina, Radiovaldo Costa, Joseildo Ramos e Cláudio Cajado. E se Joaquim resolver sair candidato? Será que a máquina pública poderá ser ativada como de praxe? Governo da inovação às voltas com perguntas muito velhas e incômodas.


Paulo Dias é jornalista e pesquisador em Cultura.

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