Confira a análise do jornalista Paulo Dias na coluna desta semana para o Portal Pereira News
Os institutos de pesquisa mais independentes davam vitória ampla para a oposição na Venezuela. Mesmo com urnas eletrônicas, o resultado demorou a sair. Por volta de uma hora da madrugada desta segunda-feira, 29, o Conselho Nacional Eleitoral anunciou a vitória improvável do ditador Maduro com 51,2% dos votos contra 44,2% de Edmundo González, apoiado pela oposicionista tornada inelegível Maria Corina Machado. A comunidade internacional até agora não reconheceu a vitória. Por meio do secretário de Estado Antony Blinken, os EUA manifestaram-se com dúvidas sobre a lisura eleitoral e assinalaram indícios de fraude. Gustavo Petro, presidente da Colômbia, e Gabriel Boric, do Chile, ambos de esquerda, também manifestaram desconfianças. Só a Bolívia, a Nicarágua e a Rússia reconheceram a reeleição do presidente.
O Brasil começou como fiador destas eleições para pôr fim ao embargo promovido pelos EUA, mas terminou enviando apenas Celso Amorim para acompanhar o processo de votação. São 13h37 agora, e até então Lula se mantém em silêncio, prova de que não confia tanto assim em seu amigo. Ano passado, ele dizia que na Venezuela tinha democracia em excesso, que a democracia era um conceito relativo. Quando, dias atrás, Nicolás Maduro ameaçou a oposição com um banho de sangue, Lula disse estar assustado, sempre se fazendo de inocente. Assustado só agora, depois de mortes, prisões, exílio, miséria, fome e migração de 25% da população? O que ele espera de um narco-estado?
Lula aceita passar pano para ditaduras, isto ele faz o tempo todo, mas ele não vai se queimar se a coisa ficar muito escancarada. Lula apoiou, até fazendo campanha, os governos de Hugo Chávez e de Maduro, quando a ditadura, que hoje se mostra com toda a sua face, se estruturava. Então podemos dizer que Lula ajudou a criar um monstro, mais um para a história da humanidade. Nenhuma surpresa para aquelas pessoas que consideram que o próprio Brasil já vive em uma ditadura, com perseguição velada, 'pero no mucho', à oposição. O discurso é o mesmo: foi contrário à esquerda é fascista, portanto pode ser caçado como um animal, desumaniza-se a divergência e contra ela pode-se fazer tudo.
Lula disse que a imagem de ditador de Maduro era injusta, que ele precisava de uma narrativa correta. Narrativa, leia-se mentira. Agora, quem vai precisar de uma narrativa é o Lula para justificar seu apoio a um tirano. Todos esperam pela divulgação das atas eleitorais para comprovar a espetacular reviravolta na preferência popular. Maria Corina Machado já afirmou que apenas 40% delas foram emitidas, dando uma margem de 70% dos votos para o candidato da oposição, Edmundo González, de acordo com o que apontavam os institutos de pesquisa independentes. Esperemos o malabarismo retórico da esquerda brasileira, que por meio do Foro de São Paulo sustentou e sustenta estas aberrações.
Por Paulo Dias - Jornalista (DRT-BA 1903) e colunista do Portal Pereira News