Em 2020, o PSD contava com 662 prefeitos no Brasil. Às vésperas da eleição deste ano, eram 1.002 prefeitos. Ao final do primeiro turno do pleito, reuniu 888 gestores municipais. No entanto, o que ninguém diz, ou tenta esconder, é que houve uma migração massiva de tucanos para o partido, notadamente em 2023. Já neste ano, a sigla era o maior partido do país em termos de administração pública municipal, o que deve se refletir no número de deputados federais e senadores em 2026, como estratégia para conter o avanço dos conservadores no Congresso Nacional. O PSDB, que tinha 531 prefeitos em 2020, caiu este ano para 273, justamente a quantidade equivalente à grande parte dos que migraram para o PSD há um ano.
Não houve mérito algum do PSD, apenas uma manobra de sobrevivência dos tucanos e a aliança no Nordeste com o PT, sempre regada por muitos recursos, como é comum nesse tipo de articulação. O PSD não é um partido poderoso, mas uma fachada para um poder que se instala no país do CAPITALISMO DE ESTADO, dos megacapitalistas atuantes na China.
Está sendo reeditado o “teatro das tesouras” com um componente a mais: o PSDB faz um movimento idêntico ao que fez o DEM ao se unir ao PSL. Existiam 799 prefeitos tucanos em 2016; quatro anos depois, houve uma queda de 15%, que seria ainda maior com a crise interna sob o comando de João Dória. Só no estado de São Paulo, cerca de 150 prefeitos saíram da sigla, que hoje administra apenas 21 cidades. O PT, que já teve 635 prefeitos em 2016, hoje conta com 248 eleitos.
Está claro que tanto PT quanto PSDB estão com baixa popularidade: o PT por ter protagonizado o petrolão e o mensalão, e o PSDB por manter o mesmo expediente no estado de São Paulo. Contudo, o que mais arranhou a imagem dos tucanos foi o famigerado “teatro das tesouras”, que, revelado, deixava claro que não eram de centro-direita, como faziam crer, mas de centro-esquerda. Os conservadores tornaram isso evidente, apontando a oposição frouxa do partido, o que foi notório nas eleições presidenciais.
O PSDB representava os empresários do Sul, assim como o DEM defendia os interesses das oligarquias do Norte-Nordeste. A elite econômica agora está travestida nessa aliança com o centrão. Mas por que o PSD e o União Brasil não dispensam o PT nessa jogada? Primeiro, porque o centrão precisa se alimentar de quem está no poder; segundo, porque o PT é importante para manter viva a narrativa socialista, por meio da qual se engendra o CAPITALISMO DE ESTADO. Para o capitalismo de estado, é interessante reeditar o teatro das tesouras. Tanto que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, está sendo preparado para ser o opositor oficial de Lula em 2026. E quem está com o governador de São Paulo? Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD. A confusão envolvendo Silas Malafaia surgiu justamente por conta disso.
Mas por que o PT alimentaria seu adversário? Primeiro, porque não tem alternativa, com sua popularidade em baixa, lembra? Segundo, quem manda de fato são os operadores do capitalismo de estado. E por fim, porque é melhor perder para um aliado do que para um adversário genuíno, como os conservadores. Com o PSD na presidência — com Tarcísio, no caso — toda a linha de comando governamental petista seria preservada, juntamente com o financiamento de ONGs, um segmento dominado pelo PT. Seria o mal menor. É como um trapezista se exibindo com uma rede de proteção. Na Bahia, por exemplo, o PSD fez 115 prefeitos, que garantirão a reeleição de Jerônimo Rodrigues.
É um teatro das tesouras muito mais sofisticado e amplo, pois o PSD pode ser aliado ou adversário, dependendo das circunstâncias. Essa conta só não fecha muito bem na questão dos deputados. Haverá bateção de cabeça, basta ver o cenário de Alagoinhas. Na composição dos quadros da prefeitura, quando aliados, também haverá dificuldades. Por isso sempre existirá brecha para os conservadores. Se o pastor Lins tivesse trabalhado com afinco, com aliança com o partido Novo e com a vinda de um deputado bolsonarista de renome nacional à cidade, ele teria como fortalecer o segmento em nível local, mas não enquanto estiver sob a influência de Anderson Baqueiro, comodamente instalado no PSD. No entanto, o que a esquerda mais teme é o controle do Congresso Nacional, que pode limitar as ações do STF. Para que tudo dê certo, é preciso conservar e até aprimorar o controle da internet e manter em corda curta as lideranças conservadoras.
Por: Paulo Dias - Colunista do Portal Pereira News
Ótimo artigo que retrata bem a rede intrincada que é a política nacional. Como há muito tempo o PT deixou de ser um partido puramente ideológico, fazendo alianças até com o demônio para se manter no poder, direta ou indiretamente, restam como partidos puros alguns partidos pequenos da extrema esquerda e o NOVO pelo campo da direita. Mas quem dá as cartas na política nacional é o centrão, capitaneado pelo PSD, que atua pendularmente sempre buscando estar com uma fatia do poder e Tarcísio, por perceber que se isolando no campo puro da direita não conseguirá chegar à presidente da República, sob protestos de aliados radicais tem se articulado com o centrão, fazendo uma jogada de puro pragmatismo.
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