Não há condições de se fazer planos de governo; deveriam ser chamados mapas de intenções. O político alagoinhense, de modo geral, não conhece os números da Prefeitura. A entrevista que o ex-secretário da Fazenda, Renato Almeida, concedeu ao Intera de Rayner mostrou dados básicos, como a arrecadação de R$ 3,2 bi nos últimos sete anos, que saiu de R$ 325 mi em 2017 para R$ 608 mi em 2023, e com um endividamento que saltou de R$ 72 mi para R$ 157 mi. Paga-se de serviços da dívida R$ 10 mi/ano.
Ele deu detalhes, mas só focando nesses números se tem uma visão do campo em que o novo prefeito irá jogar. Só que a maioria dos pleiteantes ao cargo ou desconhece essas cifras ou não sabe travar uma discussão em torno delas. Ambas as situações são graves. Pleitear a principal cadeira do município seria como se preparar para um concurso de uma prestigiada instituição para um cargo elevado. O candidato não estuda, e quando vence, governa sem estudos.
Contudo, há um desconto a ser feito: será que, se eles quisessem discutir esses valores, teriam acesso aos dados? Isso tudo já virou assunto tabu. Alagoinhas é a terra dos assuntos tabu. Houve o tabu do terreno do terminal coletivo envolvendo a família Azi, o tabu da contratação de clínicas particulares quando o hospital Dantas Bião vivia sucateado. O famoso tabu do SAAE, a chamada caixa-preta, que todo petista falava em abrir, mas deixou quieta quando chegou ao poder. Agora se tem a caixa-preta do esgotamento sanitário, a caixa-preta do inchaço da máquina pública e da contratação de cargos comissionados e a dos aluguéis para funcionamento de secretarias. Qual é o percentual mesmo de cargos comissionados? Quanto se gasta com aluguéis? Ninguém sabe, ninguém fala, ninguém diz. Como discutir o futuro de um município assim tão às cegas?
Como fazer um plano de governo via Falaê sem base nos números? Parece que Falaê é uma cópia do Orçamento Participativo, que não passava de um engodo. Reunia-se meia dúzia de simpatizantes do PT nos bairros e pedia-se para eles escolherem entre três demandas, levantadas previamente, ninguém sabe como e por quem. No fim, eram praticamente três alternativas escolhidas em gabinete ou ligando-se para os "parças". Escolhia-se uma de três opções quando se tinha, ao menos, uma dezena de necessidades urgentes. As obras macro, estruturantes, e a organização dos serviços não eram definidas pelo OP. No mais, eram decisões tomadas no escuro, sem dados concretos para fazê-lo. Isso se repete no Falaê, bem como nas seis candidaturas postas. Administra-se sem estudos estatísticos e técnicos, planeja-se sem eles e define-se o futuro da mesma forma: às cegas.
Quando se assiste, com certa frequência, às entrevistas dos políticos em Alagoinhas, tem-se a impressão de que formam uma grande família: brigam, mas se protegem ao mesmo tempo, o tempo todo. Por isso surgem os assuntos tabu, as caixas-pretas, e ai de quem, não fazendo parte desse clube, se meta a besta a quebrar com o silêncio tácito e dizer que o rei está nu. Tem gente que acha que a política de Alagoinhas não é mais provinciana, que é cosmopolita e vanguardista. Parece que o que se tem é uma casca de cosmopolitismo e um ar de vanguardeira: puro delírio ou autoengano. Se bem que tanto Paris, Nova York quanto Berlim estão se provincianizando. O primeiro mundo está se terceiromundanizando, mas pelo menos ainda se baseia em estatística – “vamos baixar o nível, mas nem tanto”, deve dizer a si mesmo.
Por: Paulo Dias - Jornalista e colunista no Portal Pereira News
Excelente artigo, gosto muito da forma imparcial com que vocês abordam o assunto.
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