Por uma cultura livre - Por Paulo Dias

O jornalista e mestre em crítica cultural realiza uma pertinente reflexão acerca do segmento cultural em Alagoinhas e, sobretudo, no Brasil

Paulo Dias - DRT BA/1903

A cultura alagoinhense está inserida  no mundo globalizado como a de outras cidades, como tudo. Estamos sobre a égide do Capitalismo de Estado, que significa a fusão do pior do capitalismo com o pior do socialismo. Os artistas são globalista/progressistas, são liberais em termos de comportamento. E não se importam com um estado pesado, caro e despótico. No outro polo, fazendo resistência a tudo isto que é capitaneado pela China, estão os conservadores nos costumes – evangélicos e católicos ortodoxos - e liberais na economia. Os artistas rejeitam os conservadores por questões comportamentais, enquanto não percebem que defendem uma ideologia opressora e economicamente ineficaz, que prejudica a população como um todo. Por outro lado, a visão de sexualidade dos conservadores é retrógrada.

É legítimo que os artistas sejam globalista ou progressistas, pois os liberais e os liberais conservadores acham que a cultura deve obedecer às leis de mercado, mas não deve. A cultura é um bem espiritual, não se compara a bens materiais a não ser quando estes apresentam algum componente estético como um carro, uma roupa, uma casa que ganham valor com o elemento artístico do designer. Cultura não tem uma função, ela atua como atributo emocional, libidinal e no ideário – valores, ideologia, conceitos, visão de mundo, prazer estético - das pessoas e cada vez mais das massas. A cultura é um ecossistema que se vincula a humanidade e a seus destinos. A cultura tem uma onipresença.

A esquerda, que hoje defende o Capitalismo de Estado, é bastante atrativa para os artistas que a veem como um porto seguro, como uma rede de proteção de trapezista. Nos altos e baixos da carreira, no fim da carreira, dá pra sempre se arrumar uma boquinha no estado, mesmo que por tabela. A escolha do artista pela esquerda é simplesmente por dinheiro – por sobrevivência, o que é justo, ou para se manter sempre em um patamar financeiro elevado. Ou seja, é um prato cheio para artistas decadentes e para aqueles que querem encher mais ainda suas burras. Os artistas decadentes estão certos, afinal a arte sempre foi uma atividade insegura, não é realmente justo que cheguem na velhice sem nenhum amparo. Deveriam cuidar de pagar a previdência como autônomos, mas nem todos são precavidos, a maioria não o é. É preciso introduzir a cultura previdenciária no meio artístico.

O fato é que o governo deve injetar recursos para que o mercado da arte se mantenha em circulação e garanta a sobrevivência de milhares de pessoas. Os liberais precisavam enxergar esta peculiaridade da atividade cultural. Não existem mais as gravadoras para financiar as carreiras previamente – claro que ficando com uma parte obesa dos lucros. No cinema existem as plataformas de streaming, um caminho de financiamento, mas extremamente comercial. As artes plásticas sempre foram bastante elitizadas, para se popularizar precisam de apoio governamental. A literatura necessita de atividades que motivem a leitura, a formação de um público leitor, o teatro idem. O ideal é introduzir arte nas escolas, tirar, um pouco, o artista do palco e colocá-lo nas escolas.

Só que apoio governamental demais pode tirar o componente competitivo que impulsiona qualquer atividade humana e amolecer e aguar o espírito criativo. A presença do estado também favorece a aparição de panelinhas. E esta vinculação política à esquerda pode fazer do artista um bajulador profissional e a fazer vista grossa a tiranias. E dão um poder perigoso às empresas de comunicação e aí, haja panela. Pena que os planos de cultura ainda não criaram a ‘culturobras’.

O amparo governamental como está desenhado só vai favorecer as panelinhas e a continuar-se negligenciando com a formação do artista, com sua ênfase excessiva em eventos.

Por Paulo Dias - DRT/BA 1903

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