Faltam creches, mas comemora-se entrega de “rabecão” - Por Ednaldo Sacramento

Em sua coluna da semana no Portal Pereira News, o professor e ativista político ampliou a discussão sobre a mediocridade política e o rebaixamento das expectativas populares em Alagoinhas

Foto: Divulgação / WEB

Já mencionamos anteriormente o sentimento que emerge na população quando do início de um novo governo: uma quase natural expectativa de que ele “dê certo”. Também vimos que um suposto “novo governo” não tem como fazer diferente, contando com os mesmos personagens e seguindo as mesmas diretrizes.

Apesar de ter sido escrita pensando em um município específico, a assertiva acima pode ser válida para qualquer localidade deste país. Da mesma forma, com abrangência geral, percebemos que as expectativas populares são extremamente baixas, devido, especialmente, ao enorme nível de suas carências. Esse quadro de baixíssimas expectativas dos setores populares, no entanto, não nos permite presumir que, ainda assim, não ocorram frustrações (“Daqui pra frente”), quando olhamos para o município de Alagoinhas (BA). Ao contrário, elas vão se apresentar e até já começam a se revelar; resta saber qual será o seu tamanho!

As demandas são enormes e, ao que parece, a “herança” deixada pelo gestor anterior, o Sr. Joaquim Neto, aumenta ainda mais os desafios. E, claro, quanto maiores as promessas, maiores as probabilidades de decepções. Haveria uma saída. Só escancarando os números das finanças públicas do município, com total transparência e uma verdadeira gestão participativa, poderia “salvar” o atual governo e livrá-lo das frustrações que estão por vir. Isso porque, com a “participação popular”, os gestores estariam dividindo as responsabilidades com o povo pelo que não será atendido, já que a “tal participação” se resume a fazer a escolha de uma dentre tantas necessidades.

Só que isso revelaria outro problema maior, muito maior, pois traria ao conhecimento público os limites de uma administração municipal; sua incapacidade de atender às necessidades da população. Mas não foi necessário esperar as assembleias do “orçamento participativo” que, caso repita a experiência anterior, se limitarão a deliberações envolvendo a parcela do orçamento voltada para investimentos. Os limites são muito baixos e já se revelaram. O que vimos na quinta-feira (13/fev.), além das diversas queixas costumeiras diárias, foi a confirmação da falta de vagas em creches para que as famílias possam matricular suas crianças.

O portal oficial da Prefeitura de Alagoinhas e até redes sociais vinculadas a portais de notícias que divulgam eventos do governo anunciaram o início das matrículas para a rede municipal de ensino, incluindo a educação infantil. Às 7h30 do dia 13 de fevereiro, tiveram início as matrículas para “novatos” na Creche Rosário da Caridade, localizada no bairro de Alagoinhas Velha, com 39 vagas no geral, de 2 a 5 anos. Eram 7 e 8 vagas, respectivamente, para crianças de 3 e 4 anos. Às 8h, apenas 30 minutos depois, não havia mais vagas. Mães de crianças, agora com 4 anos, não foram contempladas há um ano, e agora o fato se repetiu. Houve quem se dispusesse a um “cadastro de reserva” e outras, já desalentadas, “jogaram a toalha”.

A necessidade de construção de creches não se trata apenas de mais uma demanda, mas da comprovação da impossibilidade de se cultivar ilusões, pelo menos se não forem alteradas radicalmente as diretrizes de governo. Não é demais lembrar que o atual prefeito do município foi secretário municipal de Educação, portanto, deveria, no mínimo, ter um quadro da demanda; falhou!

Certamente, o caminho a trilhar pelo governo municipal e seus aliados, de quase todos os partidos, das mais variadas siglas, vai ser “cavar” emendas parlamentares para prometer novas creches para o próximo ano. Aliás, a inauguração de uma das tantas creches necessárias poderá ser a oportunidade para que apresentem a “entrega” como mais uma das “realizações” de deputados. A mediocridade da atuação parlamentar, que não é exclusiva da Câmara Federal, curiosamente, leva mais de um a prestar conta da mesma “realização”.

Assim, escandalosamente, essas são comemoradas por diferentes propagandistas, porque é isso que são, a grande maioria!

Independentemente de quem seja o ou a propagandista, obrigatoriamente, somos chamados a algumas reflexões. Seria razoável a comemoração pela entrega de “duas novas viaturas para fortalecer o trabalho da polícia técnica” (rabecão)? Não há dúvidas de que esta é uma necessidade, inclusive, muito reclamada pela população e repercutida pela imprensa local. A falta de viaturas e o reduzido número de equipes técnicas aumentam o sofrimento de famílias que choram a morte de entes queridos e precisam suportar a demora pelo levantamento cadavérico. Lamentavelmente, parte dos mortos são jovens que se desviaram e foram recrutados pelo mundo do crime.

Portanto, a deputada que comemora a entrega de “rabecão”, juntamente com seus aliados em todos os níveis, precisaria fazer um movimento sério para que tivéssemos creches em número suficiente para nossas crianças. A inversão de prioridades, com mais creches, educação integral e em tempo integral, além de espaços de cultura e esportes, certamente levaria à redução das mortes violentas de nossos jovens, assim como à diminuição das reclamações pelo “fortalecimento do trabalho da polícia técnica”.

O ceticismo quanto a soluções desse tipo decorre do fato de que as mudanças feitas “pela raiz” tirariam desses parlamentares a oportunidade de anunciar as suas “entregas”, normalmente conquistadas com emendas parlamentares e que lhes rendem votos posteriormente.

Este texto serve também para reforçar a convicção de que “a mediocridade a serviço da pequena política” não é uma exclusividade!

Ednaldo Sacramento é operário, professor aposentado e dirigente político.

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