Jornalista Paulo Dias traz uma reflexão sobre o cenário político nacional até chegar em Alagoinhas
Há muito tempo o meio político deixou de produzir ideias e talvez o meio acadêmico tenha deixado de criá-las visando a administração pública.
O fazer humano coletivo deixou de ser interesse dos intelectuais em sentido lato, e ele ainda é subdividido pelas pautas identitárias. Pensar o todo humano, o genérico, tem ficado fora de moda. Inovação virou palavra de ordem do setor de informática, robótica, medicina e biologia. Não existe nada novo a se pensar em termos de gestão pública e é nessa que as coisas pioram. Vejamos.
Fernando Henrique Cardoso foi o grande pensador do Estado brasileiro e o último, ele que subdividiu os setores em departamentos e reuniu as ações em programas, algo de mestre, de gênio, sem qualquer ironia. Hoje basta que o prefeito coloque em funcionamento os programas federais e estaduais, que são cópias dos primeiros, para cobrir aparentemente toda a demanda. Ficou tudo no piloto automático. Por que a Anjo a Quatro Patas não recebeu incentivos necessários? porque não existe nenhum programa de amparo a animais domésticos. O colorido da vida cotidiana não é reproduzido na tela da gestão pública, uma tela eternamente azulada, sem vida.
Isto faz com que entrem e saiam eleições sem um debate de ideias rico, a boa gestão de FHC emburreceu a sociedade, os gestores e os políticos. Também facilitou a corrupção: “basta eu botar em funcionamento os programas e com o resto da grana, eu faço o que bem quero”. Aqui em Alagoinhas, o único indiciado por corrupção foi Paulo Cezar, e é apontado como o que mais realizou, esta conta não fecha, pois os que hipoteticamente não foram acusados deveriam ter realizado mais que ele. E a corrupção de esquerda, que foi praticamente um modus operandi, Alagoinhas foi uma ilha de idoneidade?
A falta de ideias é geral. Gustavo Carmo é uma exceção, seguindo o exemplo do seu pai, bem narrado por Tom Torres e Luiz Eudes, em livro recém lançado “Judélio Carno, o semeador de utopias”. Como também do seu tio, Juscélio Carmo, o último dos visionários. Gustavo junto com seu pré-candidato a vice-prefeito, Luciano Sérgio, saem pelos bairros e entidades reunindo ideias e informações com seu sistema de coleta de dados para elaboração do futuro plano de governo. A ideia é interessante, mas o truque é manjado: “vou ouvir a população para depois construir coletivamente meu programa”, isto é velho, mas como é realizado por um Carmo e por um cara sério como Luciano, se acredita mais.
Outro truque batido e repisado é o milagreiro Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU). Houve uma febre disto na região, empresas especializadas em fazer um embrometion elaboraram, ou fingiram que, com minguadas participações populares, planejamentos que deram muitas alegrias para as traças.
Vejam 10 ideias elaboradas olhando apenas a demanda, todas em torno da criação de centros e programas:
1. centro de formação e informação digital e inteligência artificial.
2. centro de incentivo aos esporte com criação de academias populares.
3. centro de recuperação fisioterápica.
4 . centro integrativo de idosos para que se mantenham atuantes na sociedade e por ela sejam valorizados.
5. Programa de qualificação estética do centro da cidade, o comércio de Alagoinhas é pavoroso, cheio de prédios com a pintura vencida, desbotadas e fachadas idem.
6. Programa de combate ao stress, a ansiedade e a depressão.
7. Programa do Primeiro Emprego.
8. Programa de lazer nos bairros.
9. Programa de Artes nas escolas.
10. Programa Conectado - Internet gratuita nas regiões mais periféricas e centros de incentivo à leitura.
Mais um de bônus, Inteligência Competitiva, criação de clubes de matemática, de literatura, de empreendedorismo jovem. E o grande programa CIDADE BALNEÁRIO com a despoluição do rio Catu, criação de balneários, praças esportivas, pequenos teatros e espaços para festa, passeios de barco, oficinas de arte, atelier de artistas, galerias de arte, mercado do artesão, cinema, etc.
Claro que estes projetos são idealizações provocativas, mas vejam que todas estas ideias estão nas lacunas deixadas pelos programas federais e estaduais, em uma espécie de áreas cinzenta, que deve ser ocupada por programas municipais. Dizer que vai coletar ideias durante a campanha para montar o plano de governo ou falar que vai fazer o PDDU deixa uma pergunta no ar: onde estão suas ideias, senhor político, você que há 30 anos interage com outros políticos, com a população, com técnicos gestores de todas as áreas, onde estão suas ideias? Pelo amor de Deus!!!
Por: Paulo R. Dias
Drt/ba 1903